EUA suspeitam que Brasil compre aço da China para depois reexportar

Chamada de triangulação, suposta prática pode servir de pretexto para manter sobretaxa ao país

16.mar.2018 às 2h00

Raquel Landim

Folha de São Paulo

Os Estados Unidos suspeitam que o Brasil esteja praticando triangulação de aço chinês. O setor siderúrgico brasileiro nega, mas a desconfiança pode servir de pretexto para não excluir o país do grupo de nações que terão o produto sobretaxado.

A prática de triangulação — importar aço da China e reexportar para o mercado americano — é uma das principais preocupações do governo dos EUA e deve ser um dos critérios usados nas negociações com os países exportadores.

O presidente Donald Trump anunciou que elevará as tarifas de importação de aço de 0,9% para 25% e de alumínio de 2% para 10% a partir do fim do dia 23 de março, mas deixou a porta aberta para negociações país a país.

No fim de fevereiro, Will Ross, secretário de Comércio dos EUA, expressou sua preocupação de que o Brasil estivesse reexportando aço chinês em encontro com Marcos Jorge, ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, em Washington.

Jorge explicou ao americano que isso é impossível, porque 80% das exportações de aço do Brasil são produtos semiacabados, que servem como matéria-prima para siderúrgicas americanas. Também salientou que o país importa carvão americano.

“Já deixamos claro para o governo americano que o Brasil não faz triangulação de aço chinês. Praticamente nem exportamos aço plano para os EUA”, disse Marco Polo Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.

Em março de 2016, os Estados Unidos aplicaram uma tarifa antidumping para produtos siderúrgicos acabados do Brasil, acusando o país de vender abaixo do preço de custo. Na época, os americanos investigaram se o Brasil fazia triangulação, mas não encontraram nada.

Antes da conversa entre os dois ministros, membros do Congresso dos EUA já tinham expressado a suspeita de prática de triangulação a representantes do setor siderúrgico brasileiro, depois de serem questionados sobre as razões para o Brasil ter sido incluído numa espécie de “lista negra” do Departamento de Comércio (DOC).

No fim de janeiro, relatório do DOC colocou o Brasil num grupo de 12 nações cujo aço poderia ser sobretaxado em 53%. Além de China e Brasil, também faziam parte Malásia, Vietnã e Coreia do Sul, nações frequentemente suspeitas de reexportação de aço chinês.

A administração Trump, no entanto, acabou optando por elevar a tarifa geral de importação de aço para 25% e iniciar negociações bilaterais com os países. Mas não está descartada outra mudança na alíquota caso muitos exportadores acabem excluídos da sobretaxa. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA atrás apenas do Canadá.

PRAZO

Segundo Pablo Bentes, diretor-executivo do escritório de advocacia Steptoe & Johnson, sediado em Washington, o prazo para negociar uma exceção com o governo americano para a sobretaxa do aço está acabando e a fila de interessados é longa.

Ele afirma que a Austrália está perto de ser excluída e que a Coreia do Sul, que tem um acordo de livre-comércio com os EUA, já marcou uma rodada de conversas para a próxima semana.

Também destacou a movimentação da Argentina, cujo presidente Mauricio Macri falou diretamente com o presidente americano.

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