Para gestora BlackRock, não é hora de vender Brasil

Gestora tem dois terços dos US$ 2,5 bilhões investidos na América Latina alocados no Brasil

19.mar.2018 às 2h00

FLAVIA LIMA

Folha de São Paulo

“Expectativa de continuidade da política econômica, preços das commodities, reação dos resultados das empresas e melhora da governança das companhias finalmente começam a atrair o investidor global, que não se interessava em entender o que ocorria em Brasília e os efeitos disso sobre a economia Will Landers gestor responsável pelos fundos de investimento voltados para a América Latina da BlackRock

Não é hora de deixar o Brasil, diz Will Landers, gestor responsável pelos fundos de investimento voltados para a América Latina da BlackRock, gigante americana com US$ 6,3 trilhões sob gestão.

Landers retorna aos EUA no fim da semana, após cumprir uma série de compromissos no Brasil. Em sua fala ele se refere, no entanto, aos investimentos que a BlackRock tem na Bolsa brasileira.

A gestora mantém atualmente US$ 2,5 bilhões investidos exclusivamente na América Latina, dos quais dois terços estão em Brasil. Em março de 2016, o percentual estava bem abaixo disso, em torno de 45%.

Empresas brasileiras aparecem ainda em fundos de emergentes e em fundos globais, mas estes não estão sob a responsabilidade do gestor.

Nos fundos de América Latina, a fatia de Brasil subiu 20 pontos em dois anos. Ainda assim, Landers diz que a Bolsa brasileira se mantém atrativa porque está 45% abaixo do pico em dólares, embora ronde seu recorde em reais.

Para o gestor, é improvável que a Bolsa volte às máximas em dólar em razão de preços mais baixos do petróleo e do minério de ferro, algo que afeta empresas como Petrobras e Vale. Mas ainda há espaço para ganhos, diz ele, a despeito do movimento mais recente de realização de lucros do investidor estrangeiro.

Entre as principais apostas da gestora estão o setor financeiro, que deve se beneficiar da retomada do crédito, e o varejista, influenciado pela expectativa de crescimento de 3% da economia nos próximos quatro anos.

Landers não fala em companhias específicas, mas diz que a carteira está voltada também para os setores de petróleo e de minério, além de ter uma participação no setor siderúrgico –que deve se beneficiar da retomada da economia, apesar das medidas tarifárias americanas.

“Acredito que somos uma das carteiras mais bem posicionadas no Brasil que vai dar certo”, diz o gestor, ao ressaltar que a posição de suas carteiras supera a do índice que serve de parâmetro para a América Latina (o MSCI), que tem cerca de 57% em Brasil.

Depois de Brasil, o México tem 20% das carteiras da região e a Argentina, 5%. O restante está distribuído entre ações chilenas, colombianas e peruanas.

Juro baixo

O otimismo de Landers se escora na expectativa de continuidade na condução da política econômica após as eleições e em um cenário mais favorável, que engloba bons preços das commodities, reação dos resultados das empresas e melhora da governança das companhias.

“O quadro finalmente começa a atrair o investidor global que não estava interessado em entender o que estava ocorrendo em Brasília e o efeito disso na economia”.

Além dos estrangeiros, Landers avalia que os juros mais baixos levarão à Bolsa investidores institucionais locais, como fundos de pensão e fundos de investimento, já que os títulos públicos terão rendimento menos atrativo.

Às vésperas da reunião do Banco Central, nesta quarta-feira (21), diz que há mais espaço para outro corte nos juros. “Finalmente, o mercado se deu conta de que a Selic pode chegar a 6,5% ou até um pouco menos porque a inflação está sob controle”.

Para Landers, as companhias brasileiras fizeram ajustes durante a crise, que se revertem agora em margens melhores. Mais saudáveis, as empresas vão se beneficiar de juros mais baixos e de crescimento maior.

Embora a reforma da Previdência não tenha sido aprovada, diz ele, há compreensão em Brasília de que algo precisa ser feito. “Eles [os políticos] só não querem defender isso em ano eleitoral.”

× Como posso te ajudar?