Brasil pode ter perdas e ganhos com a briga entre EUA e China

EUA anunciaram a imposição de tarifas sobre US$ 60 bilhões em produtos chineses

23.mar.2018 às 2h00

Flavia Lima

Folha de São Paulo

A guerra comercial encenada por Donald Trump contra os chineses acende o sinal de alerta no Brasil, sobretudo porque envolve os dois maiores parceiros comerciais do país. Nesta quinta (22), os EUA anunciaram a imposição de tarifas sobre US$ 60 bilhões em produtos chineses.

Ainda faltam muitos detalhes, como a lista dos produtos envolvidos, mas entre especialistas ouvidos pela Folha a percepção é que a restrição significa, a princípio, mais oportunidades do que temores ao Brasil.

“São bilhões congelados e os EUA terão que importar isso de outro lugar. O Brasil pode suprir parte da demanda?”, diz Augusto Salles, sócio da consultoria KPMG.

No agronegócio, a China comprou US$ 19,6 bilhões em soja e milho dos EUA em 2017, o que faz dos chineses o segundo maior mercado da produção agrícola americana .

Se os chineses derem o troco também em alimentos, o Brasil, maior exportador de soja, poderia ganhar.

Outro aspecto, diz Salles, é que parte da manufatura chinesa é feita por companhias de outros países, que usam a China como plataforma de exportação para os EUA.

Com menor demanda americana, empresas como a coreana Samsung poderiam buscar outros países, como um Brasil mais competitivo.

Eduardo Fleury, do escritório FCR Law, diz que US$ 50 bilhões são pouco para os chineses, cujas exportações somam alguns trilhões de dólares. “Mas simbolicamente esse tipo de medida é ruim”.

No grupo dos menos otimistas, Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute, em Washington, teme que a questão com a China seja usada como instrumento de barganha para que o Brasil consiga a isenção de sobretaxa de aço e alumínio, temporariamente suspensa.

Bolle traça ainda mais dois cenários críticos. No primeiro deles, se a China desviar o que exporta para os EUA para países que compram produtos do Brasil, as exportações brasileiras podem sofrer; no segundo e se a china desviar parte de suas exportações para o Brasil, perdem os produtores locais, embora os consumidores ganhem.

Segundo a pesquisadora, disputas comerciais podem abalar instituições que regulam o comércio internacional, como a OMC (Organização Mundial do Comércio), já fragilizada. “Isso é ruim para todos os países, sobretudo para aqueles que estão economicamente vulneráveis, como o Brasil”, diz ela.

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