Desalento recorde atinge 4,8 milhões de brasileiros e cresce 17,8% em 1 ano. Taxa de força de trabalho subutilizada ficou em 24,6%, o que significa que falta trabalho para 27,6 milhões de brasileiros.

Por Daniel Silveira e Darlan Alvarenga, G1

30/08/2018

A taxa de desemprego no Brasil caiu para 12,3% no trimestre encerrado em julho, na quarta queda mensal consecutiva, mas ainda atinge 12,9 milhões de brasileiros, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, quando havia 13,3 milhões de desempregados no país, a população desocupada caiu 3,4%% (menos 458 mil pessoas).

Apesar do crescimento da população ocupada, os dados do IBGE mostram que a queda da taxa de desemprego tem sido puxada também pelo grande número de brasileiros fora do mercado de trabalho, subocupados ou que simplesmente desistiram de procurar emprego.

Desalento cresce 17,8% em 1 ano

O número de desalentados (que desistiram de procurar emprego) bateu recorde, atingindo 4,818 milhões de brasileiros no trimestre encerrado em julho, segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. Em 1 ano, o crescimento é de 17,8%, ou um aumento de 728 mil no número de desalentados.

No 2º trimestre do ano, o número de desalentados já tinha atingido 4,8 milhões. O IBGE trabalha, entretanto, apenas com trimestres comparáveis na divulgação mensal da pesquisa Pnad Contínua.

Segundo o IBGE, o contingente fora da força de trabalho também é recorde, considerando os trimestres comparáveis. O número de brasileiros que nem trabalham nem procuram emprego atingiu 65,5 milhões, um aumento de 1,08 milhão em 1 ano.

Número de desalentados no Brasil

Em milhões

Fonte: IBGE

“Você tem um processo de redução do desemprego, aumento da população ocupada, continuidade do aumento da informalidade. Mas, chamar isso de momento favorável é difícil. Você tem uma nuance de recuperação, que acaba sendo ofuscada por esse aumento da subutilização que chegou ao maior nível da série”, destacou Azeredo.

Falta trabalho para 27,6 milhões

A taxa de subutilização da força de trabalho ficou em 24,5% no trimestre encerrado em julho, ante 24,6% no trimestre encerrado em abril. Ou seja, ainda falta trabalho para 27,6 milhões no país.

“Quase um quarto da força de trabalho ampliada do Brasil está subutilizada”, destacou Azeredo.

Veja o que são considerados trabalhadores subutilizados e quantos estavam nessa condição no trimestre encerrado em julho:

  • 12,9 milhões de desempregados: pessoas que não trabalham, mas procuraram empregos nos últimos 30 dias
  • 6,6 milhões de subocupados: pessoas que trabalham menos de 40 horas por semana, mas gostariam de trabalhar mais;
  • 8,1 milhões de pessoas que poderiam trabalhar, mas não trabalham (força de trabalho potencial): grupo que inclui 4,8 milhões de desalentados (que desistiram de procurar emprego) e outras 3,3 milhões de pessoas que podem trabalhar, mas que não têm disponibilidade por algum motivo, como mulheres que deixam o emprego para cuidar os filhos.

A população subutilizada (27,6 milhões) ficou estável frente ao trimestre anterior (27,5 milhões). Em relação a igual trimestre de 2017 (26,6 milhões), este grupo cresceu 3,4%, um adicional de 913 mil brasileiros subutilizados.

Já o número de subocupados passou de 6,3 milhões no trimestre encerrado em abril para 6,6 milhões no trimestre encerrado em julho.

Evolução do número de desempregados

Em número de desocupados no trimestre móvel

Fonte: IBGE

Trabalho com carteira e informal

O número de empregados com carteira de trabalho assinada atingiu 33 milhões. Embora tenha caído em 359 mil na comparação com julho do ano passado, o IBGE entende que houve estabilização deste contingente.

“Existe a queda, mas ela não é estatisticamente relevante. Esta é a primeira vez, desde o início da crise, que a gente percebe estabilidade da carteira de trabalho na comparação anual, e isso é positivo”, avaliou Azeredo.

Já o número de empregados sem carteira de trabalho (11,1 milhões) mostrou estabilidade em relação ao trimestre anterior, mas subiu 3,4% (mais 368 mil pessoas) em relação ao mesmo trimestre de 2017.

O número de trabalhadores por conta própria (23,1 milhões) também ficou estável na comparação com o trimestre de fevereiro a abril, e cresceu ,1% (mais 483 mil pessoas) em relação ao mesmo período do ano anterior.

Aumento da população ocupada

O nível da ocupação (53,9%) subiu em relação ao trimestre móvel anterior (53,6%) e ficou estável em relação ao mesmo trimestre de 2017 (53,8%).

Segundo Azeredo, a queda da taxa de desemprego “vem sendo provocada, principalmente, pelo aumento da população ocupada”. Porém, ele ponderou que o aumento da população em desalento também contribui para a redução da taxa de desocupação.

“O que a gente está vendo no mercado de trabalho é reflexo da economia, que pode ter interferência expressiva, já que estamos às vésperas de eleição”, disse o coordenador do IBGE

Na comparação com o trimestre terminado em abril, aumentou em quase 1 milhão o número de trabalhadores ocupados, sendo:

  • 252 mil novos trabalhadores com carteira assinada
  • 189 mil novos trabalhadores sem carteira assinada
  • 110 mil trabalhadores domésticos
  • 284 mil trabalhadores no setor público
  • 44 mil novos empregadores
  • 88 mil novos trabalhadores por conta própria

Por outro lado, neste período, diminuiu em 40 mil o número de trabalhadores familiar auxiliar.

Renda estável

O rendimento médio real do trabalhador foi estimado em R$ 2.205 no trimestre de maio a julho, apresentando segundo o IBGE estabilidade frente ao trimestre anterior (R$ 2.215) e também em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 2.188).

A massa de rendimentos (R$ 197,2 bilhões) ficou estável em relação ao trimestre anterior (R$ 195,9 bilhões) e ao mesmo trimestre de 2017 (R$ 193,4 bilhões).

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