Índice viveu pico há 10 anos e é opção para quem vai além do sobe e desce diário

Por Ana Paula Ragazzi, Folha de São Paulo

3.set.2018

Em janeiro, muitos no mercado financeiro achavam que este seria o ano para uma dupla comemoração —pelo o aniversário de 50 anos do Ibovespa, principal índice da bolsa paulista, e pela retomada da economia, momento em que os pregões costumam ser caracterizados por alta nos negócios com ações.

Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp, chegou a ver chances de o índice repetir o “tricampeonato” de valorização de 1983 a 1985, quando o país também saía de um intervalo recessivo.

“Mas minha bola de cristal esqueceu de mostrar a piora no cenário político, as ações de Trump, a greve dos caminhoneiros”, diz Simino. Isso não significa, porém, que não haja oportunidades na Bolsa, em particular se opção for investir no próprio Ibovespa.

Olhando apenas para o índice e considerando dados ajustados pelo IGP-DI (indicador que tem o mesmo tempo de vida), desde janeiro de 1968 até hoje, a valorização acumulada do Ibovespa é de cerca de 2.700%. Ou seja, alguém que tenha mantido o investimento no nesses 50 anos multiplicou por 30 seus recursos.

O Ibovespa é um índice de referência. Serve para que o investidor saiba como se comporta o valor das empresas no pregão. Mas ele também atua como suporte para que a Bolsa tenha uma série de produtos.

O pico de alta do Ibovespa aconteceu em 2008, no governo Lula, ano em que o Brasil recebeu o grau de investimento das agências internacionais de rating. Lá, bateu em 128.494 pontos. Na última sexta, fechou a 76.777 pontos. Para voltar ao patamar histórico, teria que subir 67%.

Há quem interprete os números pela ótica do copo mais cheio e diga que a Bolsa está barata. “É possível avaliar que o potencial de valorização do índice é grande. No período de baixa é a hora de ir às compras”, diz o vice-presidente executivo de produtos da B3, Juca Andrade.

Para quem chega ao mercado de ações agora ou tem como meta um investimento de longo prazo, uma estratégia é replicar a carteira do Ibovespa, que é composta pelas ações mais negociadas e com maior valor de mercado.

O investimento poder ser feito via fundos de investimento passivos, que replicam o portfólio do Ibovespa e estão disponíveis na maioria dos bancos; ou por meio de ETF –sigla de Exchange Trade Fund, fundo de índice, na tradução adotada do Brasil.

Atualmente há 15 ETFs listados na Bolsa de São Paul, a B3. Andrade explica que a aplicação via ETF tende a ser mais barata porque o investidor compra cotas de um fundo. Já fundos passivos das instituições financeiras têm taxas de administração e podem ter restrição para o resgate.

Outra possibilidade, mais sofisticada, está no mercado futuro, com as opções. Para o pequeno investidor, a B3 tem os mini de Ibovespa. Operar no futuro inclui a possibilidade de replicar o comportamento do índice, sem ter o desembolsos e os custos de transação do mercado a vista.

No entanto, não faz sentido pensar que a cesta de ações do índice é uma garantia de diversificação plena. Uma característica do Ibovespa em toda sua história é ser sempre concentrado em alguns setores.

Atualmente, papeis de empresas do setor financeiro –de bancos, seguradoras e da própria bolsa, que tem capital aberto– respondem por cerca de um terço do índice.

Ou seja, num dia de noticiário ruim para esse segmento, vai ser difícil o Ibovespa subir.

Na década passada, a concentração estava nos chamados metais básicos: siderúrgicas, mineradoras, papel e celulose. Nos ano 2000, logo após a privatização da Telebras, a telefonia respondia por 37% do indicador, hoje tem 2%.

“Isso é característica de um índice que leva em consideração as ações mais negociadas. Sempre haverá alguma concentração”, afirma Álvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do Modalmais. O investidor estrangeiro, que tem forte atuação, prefere ações de empresas maiores para entrar e sair do investimento com mais facilidade.

No entanto, há quem veja com pessimismo a retração do índice. “Essa performance equivale dizer que o mercado de capitais não deslanchou”, diz Raymundo Magliano, dono da corretora que leva seu nome, a mais antiga da Bolsa. Ele foi presidente da antiga Bovespa, de 2000 a 2008, e teve a gestão marcada pela popularização da Bolsa.

“Mas nenhuma daquelas iniciativas educacionais foi mantida, então a cultura do brasileiro em relação a investir na bolsa ainda não mudou”, diz Magliano. Hoje, a participação da pessoa física na B3 ronda 16%, quase metade do que tinha há dez anos.

A composição do Ibovespa é revista a cada quatro meses, sempre pelos preceitos definidos lá em 1967, quando os cálculos foram feitos a mão. Sucessivas diretorias mantiveram a estrutura do Ibovespa com o argumento de que um índice precisa ter histórico para garantir credibilidade.

Após a união com a Cetip, a BMFBovespa passou a se chamar B3, mas já ficou decidido que o nome Ibovespa, de presente de aniversário, não muda. “Afinal, é meio século de tradição”, diz Andrade.

As ações mais negociadas em 2018

  • Petrobras
  • Vale
  • Itaú Unibanco
  • Bradesco
  • Banco do Brasil
  • AmBev
  • B#
  • Itaús
  • Suzano Papel 
  • Gerdau

Ibovespa em números

22,26% foi a maior baixa, em 21.mar.1990, após Plano Collor II bloquear recursos da poupança

36,05% foi a maior alta, em 4.fev.1991, também foi uma resposta ao Plano Collor II, que trazia medidas para combater a alta de inflação.

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