Sem reforma da Previdência, resultado pode ser ainda mais fraco. Economistas alertam também para cenário externo mais turbulento e preocupação com desaceleração mundial.

Por Darlan Alvarenga e Luiz Guilherme Gerbelli

30/11/2018

As projeções apontam para um avanço mais forte do Produto Interno Bruto (PIB), mas a economia brasileira deverá manter uma recuperação lenta no próximo ano, já sob a presidência de Jair Bolsonaro. O PIB do 3º trimestre cresceu 0,8% na comparação com os três meses anteriores.

Por ora, os analistas acreditam que a taxa de crescimento deve ficar entre 2% e 3% em 2019 e que esse ritmo deverá permanecer modesto até o fim do mandato de Bolsonaro, em 2022.

O quadro econômico pode ser ainda mais complicado, uma vez que todas as previsões levam em conta a aprovação da reforma da Previdência. Sem ela, o crescimento deve ser mais fraco.

“A premissa central é que o governo vai entregar uma reforma da Previdência no ano que vem. Esse ponto é bem essencial para os nossos cenários básicos”, afirma a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro. “A recuperação ainda é muito gradual, sem ganho de tração, por isso nosso otimismo é bem cauteloso.”

Há uma série de fatores que explicam a lenta retomada dos próximos anos. Primeiro, famílias, empresas e governos entraram na crise endividados, o que diminuiu o espaço para consumo e investimento, atravancando a recuperação. Segundo, nos últimos anos, o Brasil gastou mal e fez investimentos em setores pouco produtivos e ainda tem de pagar por eles, o que dificulta uma aceleração do potencial de crescimento da economia. Terceiro, o colapso das contas públicas derrubou e continua limitado os investimentos da União, estados e municípios.

O ambiente internacional mais turbulento também pode dificultar um avanço mais forte da economia. Os analistas estão preocupados com a desaceleração econômica mundial em meio ao ambiente de guerra comercial, além da perspectiva de aumento de juros nos Estados Unidos, que poderia afetar o fluxo de capitais para países emergentes como o Brasil.

“O risco global vai ser a pedra no sapato. Os riscos comerciais e de alta de juros se combinam aos geopolíticos em pano de fundo delicado”, afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator.

Os números colhidos pelo Banco Central no relatório Focus reforçam esta expectativa de lenta retomada. A mediana da expectativa dos analistas é de que o crescimento do país fique em 2,5% em todos os anos, de 2019 a 2022.

O que o PIB tem a ver com o nosso dia a dia?

A eleição de Bolsonaro até afastou as previsões mais pessimistas para o Brasil. Ao longo da campanha, o então candidato do PSL ganhou o benefício da dúvida de que deve manter uma agenda reformista, sobretudo na área fiscal. Desde o fim do segundo turno, por exemplo, a confiança do comércio e do consumidor avançou, atingindo o nível mais alto em mais de 4 anos, segundo levantamento da FGV, e os principais bancos do país melhoraram a previsão de crescimento de 2019. O Bradesco elevou a previsão para 2,8%, de 2,5%, e o Itaú Unibanco subiu de 2% para 2,5%.

“Um aumento do crescimento vai depender das reformas e de como vai se dar a consolidação fiscal do país”, diz o economista do banco Itaú Unibanco Artur Passos.

“Se isso ocorrer, o investimento pode ser maior e haverá ganho de produtividade na economia”, afirma. Nas contas do banco, nos próximos quatro anos, a economia brasileira terá melhor desempenho em 2020, quando deve avançar 3%. Em 2021 e 2022, o PIB deve subir 2,8%.

As projeções dos economistas são mais pessimistas que as da equipe econômica de Bolsonaro. No fim do segundo turno, o economista Carlos Alexandre da Costa – que colaborou com o plano econômico do PSL e que deve fazer parte do novo governo – afirmou que a economia brasileira já poderia crescer 3,5% no ano que vem.

Previdência é fundamental

A reforma da Previdência se tornou fundamental para sustentar as expectativas de crescimento. Embora os efeitos sejam sentidos apenas para o médio e longo prazos, a reforma é amplamente esperada pelo mercado e considerada fundamental para acertar as contas públicas.

“Há muita dúvida na capacidade política do presidente (Jair Bolsonaro) em avançar em uma reforma (da Previdência) adequada, correndo-se o risco de uma reforma aguada. Se este for o caso, é governo com média de crescimento de 2% a 2,5%”, diz o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.

Sem a reforma, o Brasil deve enfrentar um ambiente perverso, com piora da percepção de risco dos investidores sobre os fundamentos da economia, o que tende a reduzir o crescimento.

Para os economistas, em meio à crise fiscal e espaço cada vez limitado nos orçamentos públicos, o nível de investimento tende a seguir baixo nos próximos anos e o consumo das famílias deverá continuar sendo o principal motor da recuperação do PIB, sustentado pela expansão da massa salarial em meio à queda da taxa de desemprego, ainda que em ritmo lento e puxada pelo aumento da informalidade.

“A questão fiscal continua muito difícil. Ainda serão anos de muito aperto para conseguirmos colocar as contas em ordem”, afirma Alessandra Ribeiro.

Longa agenda

Para acelerar o avanço do PIB, o Brasil precisa melhorar a produtividade da economia, segundo analistas, e tem uma agenda bastante longa pela frente.

Além da questão previdenciária, o país precisa alterar outros pontos da questão fiscal – como rever parte dos subsídios -, endereçar uma reforma tributária, melhorar o ambiente para o investimento e avançar na qualidade da educação.

“O Brasil tem muitos gargalos. É preciso resolvê-los para poder acelerar o crescimento de uma maneira mais consistente”, diz Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Sem as reformas e a melhora do ambiente de negócios, os economistas acreditam que o potencial de crescimento do país não passa do faixa de 1,5% a 2,5%.

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