Almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira foi comandante da Marinha até janeiro de 2018; John Forman e João Cox serão conselheiros
Fernanda Nunes e Renata Batista, O Estado de S.Paulo
15 Janeiro 2019
Os militares voltaram ao comando da Petrobrás, com a indicação do almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira para a presidência do conselho de administração, posto máximo de gestão da empresa. Desde o período de ditadura, os militares não tinham posição de tanto destaque na estatal.
Além dele, foram indicados o geólogo John Forman e o economista João Cox para ocupar os assentos deixados por três membros que renunciaram aos cargos após o governo demonstrar intenção de renovar o colegiado. Eles vão começar a trabalhar apenas depois que seus nomes passarem pelo crivo dos acionistas, em assembleia geral, que deve acontecer ainda neste mês.
Ferreira é almirante de Esquadra e foi comandante da Marinha até janeiro de 2018. Em fato relevante divulgado ao mercado, a Petrobrás destacou a qualificação de nível superior que o militar recebeu nas escolas de guerra naval do Brasil, Chile e Annapolis, nos Estados Unidos. “Leal Ferreira foi treinado e teve suas capacidades de liderança, gestão e visão estratégica testadas e aperfeiçoadas ao longo de muitos anos de experiência”, ressaltou a empresa.
Durante o período de campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro chegou a avaliar um nome militar para comandar a empresa. Como principal empresa do setor de petróleo nacional, a Petrobrás foi tema de debate de diferentes grupos de trabalho criados para planejar o novo governo, entre eles, o de infraestrutura, comandado pelos militares. Ao mesmo tempo, pela sua capacidade de geração de emprego e renda, esteve no foco dos assessores econômicos, como do atual ministro de Economia, Paulo Guedes.
A última vez que um representante das Forças Armadas sentou no conselho da Petrobrás foi durante os governos petistas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que nomearam o general Francisco Roberto de Albuquerque. Mas, desde que a empresa entrou em crise, o foco da administração da empresa passou a ser a recuperação do caixa e o colegiado passou a ser ocupado por especialistas no setor e em economia.
Mudanças
Desde o fim do ano passado, ainda na transição do governo, no entanto, novas mudanças no conselho da petroleira estão sendo costuradas. O geólogo John Forman conta que recebeu uma ligação em dezembro do atual ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, sondando seu interesse em ocupar um assento.
Acadêmico pela UFRJ e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o geólogo, que hoje é consultor, atribuiu a indicação à sua experiência na administração direta e em órgãos de governo. Ele contou que conhece o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, “mas não profundamente”.
Já Cox é reconhecido pela sua atuação na iniciativa privada, principalmente no setor de telecomunicações. O executivo foi presidente das telefônicas Telemig Celular e Claro e lidera o conselho de administração da Tim.
As alterações na instância máxima de gestão da estatal geraram resistência entre conselheiros que ocupavam o cargo antes da eleição de Bolsonaro e que teriam mandato até 2020. Três deles renunciaram após receberem a sinalização do governo para que deixassem a empresa para abrir espaço a um novo perfil de profissionais.
Ao Estado/Broadcast, Castello Branco afirmou na última sexta-feira, que a intenção é mudar o perfil do conselho para que tenha “mais representantes com visão estratégica do que a Petrobrás precisa”. “Um ciclo se encerrou e iniciamos uma nova era”, complementou. A ideia é acelerar o programa de venda de ativos e focar ainda mais no pré-sal.
Assim que o novo governo assumiu a estatal, Nelson Carvalho e Petros Papathanasiadis renunciaram aos cargos de membro do conselho. Na segunda-feira, 14, ainda foi anunciada a saída de Durval Soledade. O governo já demonstrou intenção de substituir o professor da Coppe/UFRJ Segen Estefen, mas, para isso, ele próprio deve demonstrar vontade de deixar o cargo ou ser destituído pelos acionistas em assembleia. Os outros três conselheiros, com perfil mais alinhado com o do governo, deverão ser mantidos.
Condenado pela CVM
Indicado pela União para o Conselho de Administração da Petrobrás, John Forman já foi condenado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por uso de informação privilegiada. O caso ocorreu em 2013.
Uma ligação telefônica levantada como prova pelo órgão regulador mostra que ele tinha conhecimento de que a petroleira HRT (hoje PetroRio) divulgaria um fato relevante que derrubaria as ações. O executivo havia sido conselheiro da empresa fundada por Nelson Tanure, que naquele ano reportou o fracasso na exploração de duas áreas de óleo e gás na Namíbia.
Em 2016, Forman foi multado em R$ 338 mil por ter negociado R$ 1,5 milhão em ações da companhia em julho de 2013, evitando um prejuízo de R$ 169 mil. “A notícia deve sair no final da tarde de hoje ou amanhã de manhã”, diz Forman na gravação para os operadores do Credit Suisse, que receberam a ordem de vender os papéis.
A notícia de que trata o áudio era o fato relevante, divulgado em julho, com a informação de que o poço de exploração de óleo e gás Murombe-1 foi considerado seco. De um dia para o outro, as ações da HRT perderam quase 15% de seu valor.
No mesmo processo, Forman é absolvido de uma segunda acusação. Em setembro do mesmo ano, ele voltou a vender ações da petroleira antes da divulgação de outro fato relevante sobre o fracasso no Poço Moosehead-1. As provas levantadas pela área técnica da CVM não foram consideradas suficientes para comprovar uso de informação privilegiada.
Outro lado
Procurado, Forman disse não ter nada a declarar sobre o assunto. Segundo ele, o processo “foi baseado em informação privilegiada que nunca existiu”. “Minha defesa fez o processo que tinha que ser feito na CVM. Não paguei multa. O caso está encerrado”.