Mercado de ações perdeu R$ 11,5 bilhões em capital externo, mas o otimismo dos investidores no Brasil sustentou os recordes do Ibovespa.

Por Taís Laporta, G1

23/01/2019

No ano em que a bolsa brasileira alcançou níveis recordes, o mercado de capitais perdeu recursos externos pela primeira vez em sete anos. Os estrangeiros retiraram R$ 11,5 bilhões da B3 em 2018 – saída que não acontecia desde 2011.

Com isso, quem deu o tom positivo à bolsa no ano passado foram os investidores locais. A alta acumulada de mais de 15% do Ibovespa, que superou os 90 mil pontos pela primeira vez, veio sobretudo das ações compradas por fundos de investimento, explica o economista e administrador de investimentos Marcelo d’Agosto.

“Os fundos aumentaram sua posição em renda variável, especialmente porque ficaram com poucas opções de investimento em meio aos juros mais baixos”, explica D’Agosto. “Isso acaba retroalimentando a alta da bolsa”.

Chamados de investidores institucionais, os fundos aplicam recursos no mercado de ações em nome de terceiros, que podem ser pessoas físicas ou empresas. São, por exemplo, fundos de pensão ou seguradoras.

Enquanto a participação dos estrangeiros na B3 caiu ao seu menor nível desde 2013, para 46,5%, os investidores institucionais elevaram a fatia no bolo para 30,6%. O pequeno investidor manteve seu espaço no volume de negócios (veja o gráfico).

Piora global afastou o capital externo

A piora do cenário internacional explica a saída dos estrangeiros em um momento positivo na bolsa brasileira. “A expectativa deles em relação aos emergentes não é positiva neste momento”, aponta D’Agosto.

O cenário externo em 2018 foi marcado pela crescente tensão comercial entre China e Estados Unidos, além de temores com um desaquecimento da economia global. Além disso, a elevação gradual dos juros nos EUA vem estimulando uma saída de recursos dos emergentes.

Outra explicação para a retirada em massa dos estrangeiros foi a realização de lucros na B3 (vender ativos por um preço maior que o de compra).

“O estrangeiro passou muito tempo ‘apanhando’ na bolsa, e quando ela começou a melhorar, foi o momento de vender”, explica o economista e professor da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA-USP).

Na contramão do mercado, o Ibovespa teve um desempenho descolado dos principais índices de ações do mundo em 2018, que fecharam no negativo.

Os investidores locais colocaram em segundo plano as tensões externas e apostaram suas fichas na melhora da economia brasileira e na aprovação de reformas, mesmo após a greve dos caminhoneiros e a incerteza eleitoral ter abalado a confiança no crescimento.

Em compasso de espera

No acumulado de 2019 até o dia 17 de janeiro, dados da B3 mostram um fluxo positivo de recursos estrangeiros de R$ 316 milhões.

Mas ainda é cedo para saber se o ano será favorável para captar dinheiro externo na bolsa, já que o humor dos mercados não é dos melhores no cenário global. “Tudo vai depender do que a equipe econômica vai anunciar e de como vão andar as reformas”, afirma Cabral.

Por enquanto, acrescenta o economista, não é possível fazer previsões muito acertadas. “Em pouco mais de 20 dias de governo, não tivemos nenhuma informação concreta sobre o que vai ser feito na economia”.

O economista D’Agosto acredita que haveria mais chances de atrair investimento estrangeiro se o cenário lá fora fosse mais otimista. “Mas se as reformas forem aprovadas por aqui, os recursos externos devem voltar”, diz.

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