Para José Berenguer Neto, a conjuntura benigna do exterior com juros baixos e inflação sob controle no Brasil devem impulsionar o mercado local, com investidores ampliando a busca por investimentos de maior risco
Por Estadão
18 jul, 2019
O ciclo de entusiasmo no mercado brasileiro tem potencial para ser maior do que o observado há mais de uma década, mais precisamente no biênio de 2006 e 2007, período considerado como “de ouro” para o mercado de capitais no País. A opinião é de José Berenguer Neto, que preside o banco americano JPMorgan no Brasil desde 2013.
Para ele, a conjuntura benigna do exterior com juros baixos e inflação sob controle no Brasil devem impulsionar o mercado local, com investidores ampliando a busca por investimentos de maior risco. Em busca de rentabilidade, os investidores terão de abandonar o conforto da renda fixa, como títulos do Tesouro, que deixaram de ser atrativos em ambiente de Selic reduzida. “Salvo algum incidente, o que está se pintando no Brasil é um quadro muito favorável para o mercado de capitais”, disse ele, ao Estadão/Broadcast.
Leia os principais trechos da entrevista:
Quais fatores explicam o bom momento de mercado no Brasil?
Temos uma situação de abundância de recursos globalmente. Por outro lado, a população está vivendo mais e os fundos (principalmente de pensão) precisam de ativos mais longos. Isso acaba tendo impactos em mercados como o nosso, o brasileiro. Então temos, de um lado, uma política monetária super favorável e, de outro, a busca por retorno. Viveremos um ciclo de entusiasmo e de demanda maior do que em 2006 e 2007, porque naquela época a gente não tinha as condições de agora, especialmente em relação à política monetária, que não era tão relaxada no Brasil e nem no restante do mundo. Se não houver nenhum incidente, que não está previsto, teremos muita demanda por ativos por aqui.
Quando o capital estrangeiro deverá se voltar ao Brasil?
Os fundos estrangeiros dedicados a emergentes e Brasil estão com presença abaixo da média histórica. Ainda há espaço de mais demanda por ativos. Ao mesmo tempo, eles estão sem pressa, querendo ver reformas. Os ativos no Brasil ainda não subiram muito e os volumes dos estrangeiros são grandes. Se ele fizer uma compra de US$ 300 milhões, vai mexer muito com o preço e, dependendo do papel, nem conseguirá comprar. Suspeito que, nas próximas semanas, veremos um volume maior de estrangeiros comparado com locais. Aos poucos, estão voltando.
E investimentos diretos?
Nos últimos seis, sete anos, não me lembro desse investimento ter parado. É impressionante a resiliência do investidor de longo prazo no País. Mesmo em momentos de queda mais intensa do PIB, ainda querem comprar ativos. Isso de quem já tem operação aqui e aproveita momentos de estresse para ir à compra.
Como estão os private equities (fundos que compram participação em empresas)?
Essa safra de private equity está excelente. Os fundos que estavam capitalizados tiveram a chance de fazer compras a preços muito atrativos, tanto do ponto de vista de câmbio quanto de preço.
Em que momento o entusiasmo do mercado de capitais deve se refletir na economia real?
As condições estão aí. Taxa de juros baixa, demanda por investidores, reformas que a sociedade demandou. O processo, porém, demora. O que aconteceu de 2012 para cá machucou muita gente, pessoas perderam emprego. Não é um processo simples de retomada de confiança. A atividade virá, o que não se sabe é o ritmo e quando. O dinheiro captado será usado.
O que o mercado espera após a reforma da Previdência?
A reforma tributária será a próxima discussão, mas não está claro o que vem. Cada hora tem um balão de ensaio. Alguma coisa será feita. As pessoas que estão lá (na equipe econômica) são competentes, estudarão o assunto e trarão uma solução melhor que temos hoje.
Qual o crescimento do banco no Brasil?
O banco cresce de forma cadenciada. Nunca iremos dobrar de tamanho de um ano para outro. A primeira razão é por conta do risco. Dar crédito não é algo simples. Temos cuidado e somos cautelosos. A gente prefere ir devagar porque temos um plano de longuíssimo prazo. Da forma que enxerga o Brasil, o banco não está preocupado nesse trimestre, mas sim os próximos 30, 40 anos. Nos últimos sete anos, tivemos uma média de crescimento entre 15% e 20%. O Brasil daqui 20, 30 anos será uma economia importante. Haverá sobressaltos, solavancos, mas é uma economia com enorme potencial consumidor e uma estrutura de mercado que funciona.