Luísa Melo, do CNN Brasil Business, em São Paulo
16/05/2020
A sinalização clara do Banco Central de que deve voltar fazer um novo e último corte na taxa básica de juros surpreendeu economistas ouvidos pelo CNN Brasil Business, que esperam a Selic entre 2,5% e 2,25% ao ano até o fim de 2020.
No comunicado da reunião desta quarta-feira (6), na qual intensificou o ritmo de queda da taxa para 0,75 ponto percentual, a 3% ao ano, o Comitê de Política Monetária destacou que “considera um último ajuste, não maior do que o atual, para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da COVID-19”.
O juro básico da economia está no menor patamar da história.
A principal aposta do mercado era de um corte de 0,5% nesta reunião, seguindo a toada de redução gradual adotada anteriormente. Mas além de ampliar ritmo, o Copom ainda ressaltou no comunicado que dois de seus integrantes propuseram uma redução ainda maior, que promovesse “todo o estímulo necessário”. Diante das incertezas, porém, a decisão final foi por uma baixa “mais moderada” até a próxima reunião.
“Esse corte de 0,75 mostrou a gravidade do ambiente econômico que a gente está vivendo”, diz Gustavo Arruda, economista-chefe do banco BNP Paribas.
Arruda já contava com a possibilidade de um corte de 0,75 ponto nesta reunião e espera uma redução de 0,5 na próxima, para 2,5% ao ano, patamar em que a taxa deve permanecer até o fim de 2021.
“É uma decisão orientada por uma convicção bastante firme da necessidade de se reduzir a Selic, aceitando que no momento isso é imperativo. O BC ganha 45 dias para ver se o cenário sobre a situação fiscal do país fica mais claro, mas, pelo que entendi, vão reduzir a taxa de novo, independente do que aconteça”, afirma o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Ele também já esperava um corte de 0,75 agora e também prevê novo corte para 2,5% ao ano, nível em que acredita que o juro deve seguir até o fim do ano que vem.
A economista-chefe da Claritas Investimentos, Marcela Rocha, esperava uma redução de 0,5 ponto e se disse surpresa tanto com o ritmo de corte, quanto com o tom do comunicado.
“O que nos supreendeu foi que o BC entendeu que, devida à grave crise, a conjuntura prescreve estímulo altamente elevado”. Ela calcula novo corte de 0,75 ponto, a 2,25% ao ano, com o juros só voltando a subir a partir do segundo semestre de 2021.
Atividade econômica fraca
No comunicado, o BC admitiu que a perspectiva para a retração da economia em 2020 piorou muito desde a última reunião, por conta dos efeitos da pandemia do novo coronavírus, e que isso deve baixar ainda mais a inflação, já bem comportada. Mas também manifestou preocupação quanto ao risco de deterioração das contas públicas, que poderia gerar efeito contrário nos preços.
“Indicadores de maior frequência e tempestividade, referentes ao mês de abril, mostram que a contração da atividade econômica será significativamente superior à prevista na última reunião do Copom”, diz o texto.
A produção industrial brasileira recuou 9,1% em março, segundo o IBGE, e dados preliminares de abril sinalizam que o país deve mergulhar numa recessão profunda neste ano.
“Sou cético quanto uma recuperação da economia em V. Para mim, vai ser um longo L, e quando você constrói esse cenário, a inflação é baixa. Para termos uma recuperação em V, a atividade teria que começar a se estabilizar no 3º trimestre. Não dá tempo para isso nem do lado sanitário, nem do econômico e financeiro”, aponta Gonçalves, do Fator. O banco espera contração de 7% na economia brasileira em 2020.
No BNP Paribas, a previsão é de uma contração de 4% da economia no ano e, na Claritas, de 4,5%.
Impacto nos mercados
A comunicação sobre o encerramento do ciclo de cortes é importante para balizar a precificação nos mercados, que previa que os juros pudessem subir no fim do ano, aponta Arruda, do BNP Paribas.
“Amanhã deve ter um ajuste nos preços nos mercados. Quando o Copom diz que a redução é a última, ele tenta fazer com que as pessoas não precifiquem demais”, diz.