Por Gabriel Bueno da Costa e Iander Porcella
São Paulo, – Após um recuo histórico de 31,4% no segundo trimestre, auge do choque da covid-19 sobre os Estados Unidos, a economia do país deve agora crescer à taxa anualizada de 32% no terceiro trimestre, de acordo com a mediana das estimativas de 28 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast. O intervalo das estimativas aponta para avanço entre 27% e 35,1%.
O resultado trimestral esperado é apontado por analistas como recorde desde o pós-Segunda Guerra, mas eles também lembram que isso representará uma recuperação apenas parcial das perdas recentes. Em relatório, o ING diz que a atividade no terceiro trimestre foi apoiada por “grandes transferências do governo”, porém aponta que no entre outubro e dezembro o crescimento da renda deve ser menor, com novo repique nos casos da covid-19 e dificuldades para a aprovação de novos estímulos fiscais. Diante disso, o banco holandês calcula que a economia americana deve terminar 2020 mais de 2% menor do que era ao final do ano passado.
O Credit Suisse acredita que o consumo deve crescer 38% no terceiro trimestre, após ter recuado nos dois anteriores, “puxado por uma alta substancial nos gastos em bens duráveis”. O consumo no setor de serviços deve contribuir, mas com uma recuperação ainda modesta, já que medidas como o distanciamento social prejudicam especialmente esses negócios, lembra o banco. Para o quarto trimestre, o Credit Suisse também espera perda de fôlego, com o ritmo dos contágios pela covid-19. A instituição considera que o momento e o tamanho de um futuro pacote de apoio fiscal serão cruciais para determinar a trajetória da atividade. O Credit nota que mais medidas de restrição à circulação, se adotadas, enfraquecerão a economia, enquanto estímulos fiscais mais robustos poderiam impulsioná-la.
Para o Stifel, o terceiro trimestre marcará a recuperação dos gastos dos consumidores, após números muito fracos em março e abril. O banco de investimentos adverte que, ainda neste ano, o avanço dos casos da covid-19 e respostas de governos locais com mais restrições à mobilidade para conter a doença devem provocar desaceleração. Em relatório, o Stifel ressalta inclusive que, a depender da duração e da profundidade do quadro de saúde, poderia mesmo haver contração na economia mais para o fim do ano, caso os negócios sejam forçados a novamente fechar suas portas.
Em linha similar, a High Frequency Economics (HFE) lembra que, mesmo com a reação forte do terceiro trimestre, a ser confirmada nesta quinta-feira, a perspectiva adiante é mais fraca, com o risco de novos surtos do vírus que poderiam resultar em “shutdowns disseminados”. Isso, de acordo com a consultoria, poderia fazer a atividade cair aos níveis de abril até o fim deste ano.
Na avaliação do Deutsche Bank, o PIB confirmará a expectativa de reação forte no terceiro trimestre, mas o banco diz estar mais atento agora a indicadores de alta frequência, como os pedidos de auxílio-desemprego semanais, a números sobre a atividade das empresas e à mobilidade. O banco destaca que a recuperação no mercado de trabalho ainda está distante e lembra que a política monetária não pode substituir estímulos fiscais, em momentos de dificuldade para se avançar no tema entre a classe política em Washington.