Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) – O Banco Central demonstrou preocupação com a adoção de políticas fiscais que buscam controlar a inflação no curto prazo, ressaltando que as medidas podem gerar efeito contrário, de alta nos preços, mostrou a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira.

O documento não avançou de maneira concreta em informações que poderiam indicar qual percentual de aperto monetário será adotado na próxima reunião do colegiado, em março, mantendo a posição apresentada no comunicado da última semana de que é mais adequado o ritmo do ciclo de altas ser reduzido, deixando indefinida a magnitude.

“A incerteza particularmente elevada sobre preços de importantes ativos e commodities, assim como o estágio do ciclo, fez o Comitê considerar mais adequado, neste momento, não sinalizar a magnitude dos seus próximos ajustes”, informou.

De acordo com a autoridade monetária, desde a última reunião do Copom, em dezembro, a maioria das commodities reverteu a queda observada no fim do ano e, em alguns casos, atingiram recordes recentes, reforçando o ambiente global de preços mais pressionados.

A avaliação sobre o risco de usar os cofres do governo para aliviar preços de produtos foi apresentada em meio às discussões feitas no Executivo e no Congresso sobre um possível corte de tributos para aliviar os valores cobrados em combustíveis. Propostas sobre o tema já tramitam no Legislativo, com impactos que podem superar 50 bilhões de reais ao ano.

“O Comitê nota que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva”, destacou o BC.

Na semana passada, o BC aumentou a taxa básica de juros em 1,50 ponto percentual, ao patamar de 10,75% ao ano, mas indicou uma redução no ritmo de ajuste na próxima reunião do Copom, em março, além de apontar que o horizonte relevante da política monetária inclui, “em maior grau”, o ano de 2023. As avaliações foram repetidas na ata do encontro divulgada nesta terça-feira.

Na ata, o BC também mostrou uma revisão relevante na projeção de alta dos preços administrados, categoria que inclui energia elétrica, gás de cozinha, taxa de água e esgoto e transporte urbano. A estimativa agora está em alta de 6,6% para 2022, ante previsão de 3,8% feita em dezembro. A mudança foi feita mesmo com uma redução na hipótese para a bandeira tarifária da conta de luz, da categoria “escassez hídrica” para “vermelha patamar 1”.

“A revisão se deveu majoritariamente ao forte avanço nas cotações do petróleo desde a última reunião do Comitê, assim como a itens administrados cujas variações devem se repetir ao longo do ano. Essas pressões foram apenas parcialmente compensadas pela mudança na hipótese de bandeira tarifária para o final de 2022, que refletiu a melhora do cenário hídrico”, disse.

DESEMPENHO FISCAL

Na ata, o Bacen reforçou a posição de que apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, a incerteza em relação ao arcabouço fiscal mantém elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação.

“Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário de referência”, disse, ressaltando que o cenário pode levar a uma maior probabilidade de cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas.

Diante da assimetria de riscos associada ao cenário fiscal, o BC considerou que suas projeções para a inflação se encontram acima da meta tanto para 2022 quanto para 2023. Por isso, o ciclo de aperto deverá ser mais contracionista do que o utilizado no cenário de referência ao longo do horizonte relevante.

“Concluiu-se que um novo ajuste de 1,50 ponto percentual, seguido de ajustes adicionais em ritmo menor nas próximas reuniões, é a estratégia mais adequada para atingir aperto monetário suficiente e garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos”, disse, antes de reafirmar que o ciclo de aperto deve avançar em território significativamente contracionista.

CENÁRIO ECONÔMICO

A ata reforçou que o ambiente externo segue menos favorável, explicando que a maior persistência inflacionária nos Estados Unidos aumenta o risco de um aperto monetário naquele país, o que torna as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes.

Para o BC, a nova onda de Covid-19 adiciona incerteza sobre o ritmo da atividade e pode postergar a normalização das cadeias globais de produção.

Em relação à atividade no Brasil, o Bacen afirmou que indicadores relativos aos setores de comércio e serviços mostraram evolução ligeiramente melhor que a esperada em novembro, enquanto a indústria apresentou recuperação em dezembro.

Para 2022, embora registre que o crescimento tende a ser beneficiado pela normalização da atividade e pelo desempenho da agropecuária e do mercado de trabalho, o Copom fez ressalva sobre o futuro.

“Os índices de confiança divulgados desde a última reunião seguem mostrando deterioração, e desenvolvimentos climáticos afetaram as projeções de importantes culturas agrícolas”, apontou.

Nesse cenário, o Copom afirmou que a inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada em vários componentes, e segue se mostrando mais persistente do que o antecipado.

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