Disparada nos preços beneficia a própria mineradora e seus concorrentes, mas custo do acidente em Brumadinho (MG) para a atividade ainda é incalculável, dizem especialistas.

Por Taís Laporta, G1

15/02/2019

Os preços do minério de ferro passam por forte volatilidade no mercado internacional, diante de temores de que o corte de produção da Vale reduza a oferta da matéria-prima no mundo. Para especialistas, a valorização beneficia a mineradora e seus concorrentes, mas é cedo para mensurar os reais efeitos do rompimento da barragem em Brumadinho (MG) para a atividade.

O acidente levou a Vale a anunciar que vai descomissionar mais 10 barragens e cortar em torno de 10% de sua produção anual de minério de ferro, o equivalente a 40 milhões de toneladas.

A notícia gerou receios de uma possível escassez de oferta no mercado internacional, já que a Vale está entre as maiores fornecedoras da commodity – dividindo espaço com as gigantes australianas BHP Billiton e Rio Tinto.

O pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, Lívio Ribeiro, avalia que o corte anunciado pela Vale pode representar algo em torno de 2% a 3% da oferta global. “A demanda e oferta do minério apontavam para uma estabilidade antes do rompimento da Barragem”, afirma.

Alta volatilidade

Na bolsa de Dalian, na China, os preços futuros do minério de ferro para maio atingiram o recorde de US$ 96 por tonelada na segunda-feira (11), mas passaram a oscilar, com fortes perdas nos dois dias seguintes. No último ano, o produto vinha sendo negociado em torno de US$ 50 por tonelada.

Pela dinâmica do mercado, os preços sobem toda vez que a oferta cai.

A empresa de análise de dados Tivlon Technologies, em Cingapura, projetou que os preços do minério de ferro poderiam atingir US$ 120 por tonelada em agosto com o corte de produção da Vale.

Custo incalculável

Para o ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores, Welber Barral, grande parte da disparada nos preços é especulativa, em meio a dados ainda incertos sobre o futuro da companhia. “O mercado tenta prever qual será a queda efetiva da produção, mas estas informações ainda são imprecisas”.

O principal comprador do minério de ferro no mundo, a China, é quem mais vai pagar caro pela commodity. O país recebeu mais da metade (53%) de toda a matéria-prima exportada pelo Brasil no ano passado, um total de US$ 10,9 bilhões, segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Barral acredita que a volatilidade do preço do minério tende a diminuir. “No longo prazo, os preços devem se estabilizar, à medida que a produção do minério de ferro venha a crescer de outras origens”.

O minério de ferro representou 8,4% das exportações brasileiras no ano passado (US$ 239,9 bilhões), mostram dados da Funcex. É o terceiro produto mais exportado, atrás apenas da soja e do petróleo. No ano passado, as vendas externas do minério do Brasil atingiram 394,24 milhões de toneladas.

Quem ganha com a valorização

A disparada da commodity fez as ações da Vale recuperarem parte das perdas na bolsa após Brumadinho. A mineradora e suas concorrentes tendem a se beneficiar desta valorização, lembra Ribeiro, do Ibre. “Os rivais da Vale estão rindo ‘de orelha a orelha'”.

Quanto à Vale, a alta pode amenizar os efeitos da queda no volume exportado. “Se por um lado a mineradora reduz sua produção, por outro os preços sobem, o que acaba mantendo um equilíbrio na balança comercial”, explica Barral.

Já as perdas financeiras da Vale são incalculáveis diante dos desdobramentos do acidente. Ainda é cedo, por exemplo, para saber o custo de novas multas, indenizações e decisões judiciais contra a Vale após Brumadinho. Interdições de outras barragens podem levar a mineradora a reduzir ainda mais sua produção.

Em Barão de Cocais (MG), uma vistoria de segurança em outra barragem da Vale desalojou moradores. No Espírito Santo, a empresa teve três áreas interditadas e foi multada em R$ 35 milhões. Uma decisão judicial determinou que ela pare de lançar rejeitos em outra barragem.

Desaquecimento mundial pode frear preços

Apesar do risco de uma escassez na oferta, a demanda mais fraca por commodities no mundo pode equilibrar a dinâmica de preços, observa Ribeiro, do Ibre. Para ele, o comportamento da economia chinesa será determinante.

O momento é de desaquecimento da economia global, em meio a tensões comerciais entre China e Estados Unidos, que reduziram o apetite do país asiático por matérias-primas de mercados emergentes.

“O mercado internacional hoje não é tão demandante de matérias-primas como antes, especialmente nos principais mercados compradores, como a China”, diz Barral.

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