Para Giufrida, se reforma for aprovada, Bolsa deve alcançar novo patamar e dólar tende a se desvalorizar

Entrevista com Marcelo Giufrida, sócio e gestor da Garde Asset Management

Ana Carolina Neira, O Estado de S.Paulo

18 Fevereiro 2019

Após um turbulento período eleitoral que deixou investidores em compasso de espera, o sócio e gestor da Garde Asset Management, Marcelo Giufrida, assume uma visão otimista em relação aos mercados neste início de ano. Porém, ele avisa: o bom clima tem prazo, a depender da reforma da Previdência, que pode ditar como serão os próximos meses do mercado. Em entrevista ao Estado, ele aponta a medida como o divisor de águas do que está por vir.

A Bolsa brasileira vem se aproximando do patamar dos 100 mil pontos, nível nunca antes alcançado. Ainda está barata?

Depende do cenário. Se ele for de reformas aprovadas, com a Previdência antes de tudo e outras mudanças na sequência, está barata. Sem as reformas, em uma visão mais pessimista, isso muda e a Bolsa ficaria cara. Porém, ainda assim, diria que está com um preço “ok”.

Como o cenário global pode influenciar nos investimentos?

Tivemos uma economia com baixa volatilidade e pouca liquidez nos últimos 10 anos (no mundo) e agora estamos voltando ao normal. Os bancos centrais não serão os únicos a prover liquidez e o mercado terá de encontrá-la. Com os juros voltando ao normal, isso acaba sendo um desafio. O mercado terá de aprender a reagir ao ambiente.

Para o investidor, o que isso significa?

Esse cenário já é difícil para o investidor profissional, mas para o investidor que tem menos recursos é ainda pior. Se alguém tem aversão ao risco deve prestar atenção, talvez buscar uma carteira mais adequada a essa expectativa. Não existe fórmula mágica. De maneira geral, é saber organizar o que é investimento para curto, médio e longo prazos, compondo portfólios que mesclem renda fixa e variável.

Como deve ser o comportamento do investidor estrangeiro na Bolsa? 

Isso é um enigma. No final de 2018 o mercado estava assustado com o período eleitoral. Agora há um certo ceticismo sobre a equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro. Há uma tendência de que as reformas serão feitas, mas ninguém tem certeza. Fato é que a reforma da Previdência virou o “cabo da boa esperança”. Se ela for aprovada, haverá espaço para outras mudanças. Mas, sem essa reforma, as outras não adiantam.

O Brasil deve recuperar o grau de investimento?

Acho que esse é um tema para longo prazo. O aumento do grau de investimento será reflexo da realização de outros processos.

Como a aprovação da reforma da Previdência?

Sim, ela é a primeira e mais importante de todas, que destrava o pavimento para as demais mudanças.

O sr. acha que o governo consegue aprová-la?

A reforma da Previdência não é um assunto novo e estamos em uma rodada mais focada de discussões. Além disso, o parlamento também está mais aberto para fazer uma reforma mais ampla. Considero que o assunto esteja suficientemente maduro para aprovação.

No mercado, há investidores que acreditam que o dólar vai terminar o ano abaixo de R$ 3,60. Qual seu palpite?

Pelas nossas avaliações, o dólar está um pouco alto hoje e acreditamos que poderia estar um pouco mais baixo do que está hoje. Até o fim do ano muita coisa vai acontecer no cenário político-econômico, mas se a reforma da Previdência for aprovada, o dólar tende a cair um pouco.

Qual a projeção da Garde para a Selic?

Acredito que até o primeiro trimestre do ano que vem ela deve seguir como está.

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