Números da indústria, do comércio e dos serviços apontam fraqueza da atividade; se a previsão se confirmar, pode ser o primeiro recuo trimestral da economia desde 2016.
Por Karina Trevizan, G1
15/05/2019
Dados fracos sobre o desempenho da indústria, do comércio e dos serviços nos primeiros três meses do ano apontam que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre pode vir negativo. Essa possibilidade de encolhimento da economia é prevista por alguns analistas, e é observada também pelo Banco Central.
Nesta terça-feira (14), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) divulgou a ata de sua última reunião, em que avaliou que existe “probabilidade relevante” de que o PIB tenha registrado um “ligeiro” recuo no primeiro trimestre de 2019. Se isso se confirmar, pode ser a primeira vez que a economia ‘encolhe’ desde 2016.
Os dados oficiais sobre o desempenho do PIB serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) no próximo dia 30. Mas os resultados dos principais componentes do PIB já são conhecidos:
- O setor de serviços teve queda nos três primeiros meses de 2019;
- A indústria caiu em janeiro e teve leve alta em fevereiro, até registrar no mês seguinte o pior resultado em seis meses;
- As vendas do varejo subiram no acumulado dos três meses, mas sem avanço expressivo.
Os analistas ouvidos pelo G1 atribuem o resultado fraco da economia no começo de 2019 a uma frustração das expectativas por reformas econômicas – o que atrasa decisões de investimentos por parte dos empresários e de consumo para os investidores.
“A gente teve um primeiro trimestre de muito ruído, e isso impacta na perspectiva da atividade econômica. A gente vê investidores segurando o freio de mão, segurando o que poderiam colocar na economia”, comenta o economista chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, que comenta ainda o efeito da frustração sobre o consumo.
“Se você vai comprar um carro, uma casa, ou até produtos eletrônicos ou de linha branca, são decisões de consumo nas quais você tem que pensar antes. E a perspectiva é que esse consumo vá ser adiado se você tem medo do desemprego.”
“O resultado de agora é pelo pecado do excesso de otimismo”, afirma Vieira.
O economista Roberto Luis Troster também comenta a frustração de expectativas em relação à velocidade das discussões sobre reformas econômicas. “O governo focou em problemas que não eram problemas, como mudar a embaixada de Israel para Jerusalém, enquanto a apresentação da proposta de reforma da Previdência demorou mais de um mês”, diz.
A economista chefe da Rosemberg Associados, Thaís Marzola Zara, também aponta os efeitos da frustração em relação às reformas, mas acrescenta à conta fatores conjunturais que também puxaram os resultados para baixo. “A gente teve a indústria caindo bastante, refletindo em parte a questão das exportações da Argentina, e em parte refletindo o impacto de Brumadinho”, exemplifica Zara.
A tragédia com uma barragem da Vale em Minas Gerais, em janeiro, teve forte impacto sobre a produção da mineradora e se refletiu no número das indústrias extrativas como um todo. O número mais recente do IBGE aponta para queda acumulada de 7,5%.
Zara também cita o aumento do preço dos combustíveis e a elevação dos custos com correio, que impactaram o setor de serviços. Mas ela diz que esses fatores, isoladamente, não explicam a “fraqueza” da economia. “É uma conjunção de fatores que acaba contribuindo para um resultado mais fraco. Vários choques que são pontuais, mas a gente percebe uma fraqueza um pouco mais generalizada. ”
Possibilidade de recessão?
Outra discussão entre os analistas sobre o risco de recessão. Quando o IBGE divulga dados do PIB, os números de trimestres anteriores geralmente são revisados. Em fevereiro, o instituto informou que o PIB cresceu 0,1% no 4º trimestre de 2018. Se esse número for revisado para baixo e a previsão de queda no primeiro trimestre de 2019 se confirmar, isso significaria que o Brasil está, tecnicamente, de novo em recessão.
Mas os analistas ouvidos pelo G1 apontam essa possibilidade como algo mais remoto. “Por enquanto, a gente ainda não está considerando”, afirma Zara. Já Viera diz que o quadro atual “não chega a ser suficiente para que se configure em recessão.”
Mas Troster aponta que a discussão deve ser mais ampla. “Tanto faz se é recessão ou não. O crescimento é anêmico, e isso é fato.”
Previsões para o ano
O desempenho fraco no primeiro trimestre já está levando analistas e instituições a mudarem suas previsões para o PIB do ano todo. Nesta semana, os economistas dos bancos ouvidos pelo boletim Focus, do BC, reduziram a estimativa de alta do deste ano de 1,49% para 1,45% – na 11ª queda consecutiva. O Itaú, por exemplo, reduziu a estimativa de alta de 1,3% para 1%, apontando o desempenho ruim da indústria e a demora na recuperação da confiança.
O governo também piorou sua previsão. Nesta terça, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a previsão de crescimento do PIB caiu de 2,2% para cerca de 1,5% neste ano.