O fato de a emenda da Previdência ter sofrido atraso, em vez de impedir, alimenta as apostas em cortes da Selic

Por Bloomberg

28 mai, 2019

O mercado aumentou a precificação para um possível corte da Selic até dezembro para 12 pontos, mais do que dobrando os cinco pontos precificados uma semana atrás.

A expectativa de que a reforma da Previdência será aprovada, combinada ao enfraquecimento da atividade, embala as apostas do mercado, embora a visão de estabilidade da taxa ainda seja majoritária.

Ao mesmo tempo, a inflação implícita, projetada pelo mercado para dois anos com base nos títulos públicos, cai a 3,5%, recorde de baixa.

O fato de a emenda da Previdência ter sofrido atraso, em vez de impedir, alimenta as apostas em cortes da Selic. Isso porque enfraquece um argumento hawkish, contrário a juros menores, visto no começo do ano: o de que uma reforma aprovada mais cedo impulsionaria a economia, pressionando a inflação e impedindo a redução da Selic.

“Se persistir uma retomada da economia abaixo do esperado por conta do atraso da reforma, isso pode abrir possibilidade de corte de juro”, diz o ex-diretor do Banco Central Rodrigo Azevedo, sócio-gestor da Ibiúna Asset Management.

O cenário para inflação permanece muito benigno, enquanto o quadro para atividade local está cada vez mais negativo e o ambiente externo segue muito favorável a juros muito baixos pelo mundo, diz Mariana Guarino, gestora de portfólio da Truxt Investimentos.

O cenário anterior de que a a economia teria forte impulso com a reforma, impedindo o juro de cair, “está cada vez mais distante”, diz Mariana.

Por outro lado, há o aprendizado de que a qualidade da inflação no Brasil mudou bastante e é bem mais benigna do que se antecipava. “A inflação se mostrou muito resiliente a choques recentemente, é uma ótima notícia”, diz a gestora.

A partir do final de manhã, a bolsa ampliou a alta após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, dizer que o relatório da reforma da Previdência poderia ser antecipado em uma semana.

O atraso da tramitação na reforma, sobretudo na CCJ, foi visto por analistas como um dos motivos da piora das expectativas para o crescimento deste ano. Para o PIB do primeiro trimestre, que será conhecido nesta quinta-feira, o mercado espera uma retração de 0,1% ante o período anterior.

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