Ações fecharam em baixa apesar da avaliação positiva do plano. O papel, como se sabe, aceita tudo. Mas as dificuldades podem vir na execução.

Por Letícia Toledo

16 jul, 2019

SÃO PAULO – A companhia telefônica Oi finalmente apresentou seu novo plano estratégico, que estava sendo revisado desde o início do ano, nesta terça-feira (16). Citando cifras como R$ 14,5 bilhões de impacto e até R$ 7,5 bilhões de receita com vendas, a companhia conseguiu animar alguns analistas e investidores, mas o que se viu foi mais um dia volatilidade nos papéis.

As ações abriram em alta, mas os papéis ordinários (OIBR3) fecharam em queda de 3,09% enquanto os preferenciais (OIBR4) recuaram 0,56%. É um sinal claro de que a estratégia apresentada não foi suficiente para tranquilizar a todos. A maioria dos analistas ouvidos pelo InfoMoney elogiou o plano. O papel, como se sabe, aceita tudo. Mas as dificuldades podem vir na execução. Abaixo listamos os principais pontos apresentados e as preocupações que rodeiam a empresa.

O foco em fibra

Uma coisa está clara: a Oi pretende focar seus negócios em fibra — algo que já vinha sinalizando — aproveitando a vantagem competitiva que a empresa tem hoje. “A infraestrutura de fibra é o principal diferencial da Oi. Faz todo sentido eles focarem nessa área”, afirma Ricardo Campos, gestor da Reach Capital. A companhia tem hoje um total de 360 mil quilômetros de rede de fibra instalados — o dobro do segundo maior competidor.

Com essa infraestrutura instalada, a Oi quer expandir sua presença em residências. O ambicioso plano envolve chegar a 16 milhões de casas até 2021, ante os 1,2 milhão de residências atendidas atualmente.

R$ 7,5 bilhões à venda

Para reduzir sua dívida e poder focar em fibra, a Oi anunciou a venda de ativos, que devem gerar entre R$ 6,5 bilhões e R$ 7,5 bilhões para o seu caixa. Os primeiros desinvestimentos devem acontecer no quarto trimestre deste ano, com a venda de torres de telefonia móvel e da empresa de telefonia angolana Unitel (avaliada em cerca de US$ 1 bilhão).

Além desses desinvestimentos, a empresa vai focar também na redução dos custos operacionais, que devem gerar uma economia de R$ 1 bilhão até 2021. A viabilidade desse corte de custos ainda gera dúvidas. “A economia de R$ 1 bilhão não parece ser trivial de entregar”, afirma um relatório do Itaú BBA.

E a parte móvel?

Parte do mercado esperava que a Oi fosse anunciar a venda de sua parte de internet móvel nesta terça-feira. O anúncio não veio. Ao invés disso a empresa afirmou que irá focar na expansão de clientes no mercado pós-pago e ainda  “explorar todas as opções estratégicas para maximizar o valor para o acionista”.

Questionada por um analista durante a teleconferência sobre se essa “exploração das opções” poderia resultar na venda de sua divisão móvel, a diretoria da Oi se limitou a dizer que, apesar de avaliar todas as opções, o plano estratégico atual não depende de nenhuma ação não orgânica específica para avançar.

“O que parece é que vender a parte móvel é uma segunda alternativa. Se os R$ 6,5 bilhões [com a venda de ativos] não vierem, a Oi poderia colocar essa parte à venda, mas não é algo que está nos planos agora”, afirma Marcio Correia, gestor da JGP, que detem ações da Oi.

Um novo presidente na Oi?

Durante a apresentação do plano da Oi um nome foi destacado várias vezes. O atual conselheiro da Oi Rodrigo Abreu foi apresentado como o grande coordenador do plano estratégico.

A participação de Abreu no plano estratégico esquentou os rumores no mercado de que o executivo, que presidiu a Tim entre 2013 e 2016, estaria se preparando para assumir a presidência do Oi, substituindo Eurico Teles.

“O Rodrigo Abreu tem um perfil mais técnico, é ótimo. Mas acho que Eurico deveria continuar até o fim da recuperação judicial. A condução da recuperação está sendo bem sucedida e em time que está ganhando não se mexe”, afirma Aurélio Valporto, que representa parte dos acionistas minoritários da Oi.

“O Rodrigo Abreu é um ótimo executivo para a fase atual da companhia. O Teles teve um papel importante, cuidando da parte jurídica da recuperação. Agora o Rodrigo pode focar no operacional, que a companhia tanto precisa para voltar a crescer”, avalia Correia, da JGP.

O plano apresentado é suficiente?

Um ponto fundamental para a continuidade da Oi é a aprovação do projeto de Lei da Câmara (PLC) 79/2016, que cria um novo marco das telecomunicações no país. A aprovação da PLC, atualmente parada numa comissão no Senado, é essencial para a retirada da companhia das obrigações de concessão de serviço público de telefonia fixa.

Segundo relatório do Bradesco BBI a operadora gasta cerca de R$ 600 milhões por ano para cumprir essa concessão. A títulos de comparação a Vivo, que tem a concessão do estado de São Paulo, gasta menos da metade (entre R$ 200 e R$ 300 milhões).

Entre as obrigações está a necessidade de instalar uma linha fixa em qualquer lugar do país em até sete dias. O dinheiro hoje gasto com isso poderia ser utilizado para os investimentos em fibra.

Questionados sobre a expectativa de aprovação da PLC durante a teleconferência, executivos da Oi preferirem não comentar o assunto.

“Diversos países ao redor do mundo já retiraram essas obrigações de suas empresas de telecomunicações, esperamos que isso seja resolvido também no Brasil ainda este ano”, afirma Correia, da JGP.

O novo valor da Oi?

A Oi ressaltou que seu novo plano deve ajudá-la a melhorar seus múltiplos. Para medir esse potencial a empresa trouxe o indicador EV/EBITDA (em uma tradução simplificada, o valor da empresa sobre sua geração de caixa).

Atualmente a Oi tem um EV/EBITDA de 3,4 vezes. Companhias de telecomunicações tradicionais têm o múltiplo em 6,7 vezes enquanto companhias focadas em infraestrutura fixa — caminho que a Oi está disposta a seguir  — têm esse múltiplo em 11,7 vezes. Para chegar até lá, o caminho ainda parece bem longo.

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