Trata-se da terceira alta mensal no ano e do melhor resultado desde dezembro. Para IBGE, setor ainda não mostra trajetória clara de recuperação.

Por Darlan Alvarenga e Daniel Silveira, G1

12/09/2019

O volume do setor de serviços cresceu 0,8% em julho, na comparação com o mês anterior, eliminando as perdas de junho, segundo divulgou nesta quinta-feira (12) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Trata-se da terceira alta no ano, da melhor taxa mensal desde dezembro e do melhor resultado para meses de julho desde 2011, quando também houve avanço de 0,8%.

Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a alta foi de 1,8% – quarta taxa positiva do ano.

Apesar do resultado positivo, o IBGE destacou que o setor ainda não mostra trajetória clara de recuperação e se encontra 1,2% abaixo do patamar de dezembro do ano passado, e 11,8% abaixo do pico, registrado em novembro de 2014.

O IBGE revisou os dois resultados anteriores. Em junho, a queda foi de 0,7%, menor que o recuo de 1% divulgado anteriormente. Já o resultado de maio foi revisado para uma alta de 0,2%, e não de 0,1%.

Sem trajetória clara de recuperação

No ano, o setor acumula alta de 0,8%, melhor resultado para os 7 primeiros meses do ano desde 2014. Em 12 meses, apresenta avanço de 0,9%, o que representa um ganho de ritmo na comparação com junho.

“A taxa anualizada, indicador acumulado nos últimos doze meses, ao passar de 0,7% em junho para 0,9% em julho de 2019, assinalou ganho de ritmo, mas ainda não mostra trajetória clara de recuperação, já que em maio chegou a avançar 1,1%”, destacou o IBGE.

De acordo com o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, o resultado de julho foi positivo, mas que tem que ser visto com ressalva, uma vez que também houve um dia útil a mais na comparação interanual. Segundo ele, eliminando esse efeito sazonal, o crescimento teria sido de 1,2%, e não 1,8% na comparação com julho de 2018.

“É sabido que o setor de serviços vem encontrando dificuldades desde 14. Foram três anos seguidos de resultados negativos, 2015, 16 e 17, com 11% de perda acumulada. Em 2018, interrompeu essa série fechando estável, com 0%. E agora, diante dessa base baixa de comparação, o setor mostra algum tipo de recuperação pelo menos nos sete primeiros meses do ano”, disse.

Segundo ele, com o resultado de julho, o nível de atividade do setor de serviços ainda permanece no patamar de fevereiro de 2011, ainda distante do registrado antes da recessão.

“De agosto a dezembro o setor precisa mostrar resultados melhores. Se isso acontecer, aí sim a gente vai poder dizer que há uma recuperação, porque não se pode falar em crescimento real em cima de uma base baixa”, acrescentou o pesquisador.

Desempenho por setores

Segundo o IBGE, 3 das cinco atividades pesquisadas registraram crescimento na passagem de junho para julho, com destaque para o ramo de serviços de informação e comunicação (1,8%), outros serviços (4,6%) e transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (0,7%).

Em contrapartida, houve queda no ramo de serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,3%) e nos serviços prestados às famílias (-0,5%).

De acordo com Lobo, a recuperação ainda fraca do setor de serviços é explicada principalmente pelo desempenho do setor de transportes, que está 2,8% menor que em dezembro.

“O transporte de carga, em especial o terrestre, tem uma grande aderência ao setor industrial”, que mostra taxas negativas nos últimos três meses. “Esse resultado é influenciado pela magnitude da queda, além do peso do setor de transportes, que representa 31,25% nos serviços”, afirmou.

Variação do volume de serviços em julho, por atividade:

Serviços prestados às famílias: -0,5%

  • Serviços de alojamento e alimentação: -0,4%
  • Outros serviços prestados às famílias: -0,7%

Serviços de informação e comunicação: 1,8%

  • Serviços de tecnologia da informação e comunicação: 1,4%
  • Telecomunicações: 0,1%
  • Serviços de tecnologia da informação: 8,4%
  • Serviços audiovisuais: 2,7%

Serviços profissionais, administrativos e complementares: -1,3%

  • Serviços técnico-profissionais: -1%
  • Serviços administrativos e complementares: -0,3%

Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio: 0,7%

  • Transporte terrestre: 0,6%
  • Transporte aquaviário: 5,7%
  • Transporte aéreo: -2,3%
  • Armazenagem, serviços auxiliares aos transportes e correio: 2,9%

Outros serviços: 4,6%

Recuperação lenta e perspectivas

Os indicadores econômicos já divulgados sobre o mês de julho mostram um desempenho misto da economia no 2º semestre, em meio ao desemprego ainda elevado e piora no cenário externo com a crise da Argentina, guerra comercial e temores de uma nova recessão global.

A produção industrial, por exemplo, registrou queda de 0,3% em julho – o terceiro recuo mensal seguido. No acumulado no ano, o recuo chega a 1,7%, o que mantém a indústria no nível de janeiro de 2009.

Já as vendas do comércio cresceram 1% em julho, acima do esperado, no melhor resultado mensal desde novembro do ano passado (3,2%). Em 12 meses, o avanço nas vendas do varejo é de 1,6%, o que representa um ganho de ritmo ante junho (1,2%) e frente aos meses anteriores.

A expectativa é que a liberação dos saques das contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Fundo PIS-Pasep ajudem a acelerar o consumo nestes últimos meses do ano. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que R$ 13,1 bilhões (44% do total previsto a ser injetado na economia) será destinado para gastos no comércio e consumo de serviços.

A projeção do mercado financeiro para estimativa de alta do PIB deste ano permanece em 0,87%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central. Já o governo prevê crescimento de 0,85% em 2019, abaixo do ritmo de avanço de 1,1% registrado em 2018 e 2017.

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