Veja as análises de Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), e Marcel Caparoz, economista da RC Consultores
Por Lara Rizério
17/09/2019
SÃO PAULO – Os ataques a instalações de petróleo na Arábia Saudita não trazem impacto somente para os investidores em ações e para os produtores de petróleo. O preço do petróleo disparou nos principais mercados em apenas uma sessão, o que pode gerar reflexos para o consumidor brasileiro.
De acordo com Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), o ocorrido no fim de semana deve resultar em um aumento nos preços dos combustíveis brasileiros, mas a magnitude ainda é incerta, assim como quando isso acontecerá.
Com a alta de 15% na segunda-feira (16), o valor do barril do petróleo brent (usado como referência pela Petrobras) saiu de um patamar de US$ 60 para US$ 69 de sexta-feira para segunda-feira. Mas ainda é cedo para projetar qual será o novo preço de equilíbrio da commodity, porque isso depende do tempo que a Arábia Saudita levará para retomar a produção.
Mas, caso o valor se estabilize entre US$ 65 e US$ 70 o barril, a Petrobras elevaria os preços dos combustíveis nas refinarias em 6% no primeiro caso e entre 8% e 10% no segundo, de acordo com Pires. A estimativa considera apenas a variação da cotação internacional do petróleo.
Vale ressaltar que o preço dos combustíveis também é influenciado pelo câmbio e, com o real depreciado, há uma nova fonte de pressão.
Já nos postos de combustíveis, o impacto é mais incerto, uma vez que os preços são livres. “Até pode haver um aumento dos próximos dias, com a desculpa da alta do petróleo, mesmo que os valores nas refinarias não tenham sido reajustados ainda”, avalia Pires.
Para o especialista, contudo, a Petrobras aguardará por um período, até algumas semanas, para ver como se darão os movimentos dos preços, uma vez que as próximas semanas devem ser de um mercado muito volátil.
Neste sentido, na noite de ontem, a Petrobras se pronunciou em comunicado informando que, reconhecendo que o mercado apresenta volatilidade e que a reação súbita dos preços ao evento ocorrido pode ser atenuada na medida em que maiores esclarecimentos sobre o impacto na produção mundial sejam conhecidos, decidiu por acompanhar a variação do mercado nos próximos dias e não fazer um ajuste de forma imediata.
“A empresa seguirá acompanhando o mercado e decidirá oportunamente sobre os próximos ajustes nos preços”, destacou ainda.
Na avaliação de Pires, qualquer aumento acima de 5% não seria feito de forma imediata, por mais que fosse o ideal, uma vez que não haveria ambiente político para tamanho reajuste em apenas uma “tacada”.
Assim, neste momento de muita incerteza, a Petrobras deve segurar os preços até que o cenário seja menos nebuloso, conforme avalia Marcel Caparoz, economista da RC Consultores.
Se os preços continuarem subindo, porém, o economista avalia que a Petrobras optaria por um reajuste intermediário no curtíssimo prazo, de forma a trazer uma resposta para os investidores, mas sem causar um impacto tão negativo para o consumidor.
Além disso, ele aponta, apesar da tendência no curto prazo ser de elevação dos preços do petróleo, a análise conjuntural aponta para uma queda na cotação da commodity em meio à desaceleração da economia global.
Assim, mais um ingrediente de tensão geopolítica como o ocorrido no último fim de semana pode ser outro fator para a atividade perder fôlego, levando a um enfraquecimento na demanda pelo petróleo.
Teste de fogo
Esta alta imediata dos preços do petróleo é considerada mais um teste de fogo para a relação entre o governo e a Petrobras. Analistas e investidores monitoram a independência da empresa para fazer reajustes.
Em abril, repercutiu negativamente a notícia de que o presidente Jair Bolsonaro havia telefonado para Roberto Castello Branco, CEO da Petrobras, pedindo explicações sobre a alta dos combustíveis. Isso fez a empresa suspender a alta naquele momento. Posteriormente, contudo, a política de reajustes continuou, com algumas modificações, como uma política de alterações nos preços sem períodos definidos.
De acordo com informações da Bloomberg, no momento, a equipe econômica do governo avalia ser cedo demais para ver o impacto no petróleo sobre os indicadores econômicos como inflação, uma vez que os preços ainda estão muito voláteis, avaliando ainda que a estratégia para lidar com o impacto dos preços dos combustíveis deve ser comandada pela estatal.
No início da sessão da véspera, a avaliação de muitos agentes de mercado era de que o episódio deveria impor maior cautela nas decisões de juros essa semana, com uma análise cuidadosa dos potenciais impactos desse evento sobre os preços.
Na próxima quarta-feira, ocorrerá a reunião de política monetária do Banco Central. A expectativa praticamente unânime dos economistas é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte a Selic para 0,5 ponto percentual, a 5,5% ao ano, na reunião desta semana, visão esta mantida agora com o reajuste imediato sendo descartado pela Petrobras.