Por Ana Carolina Siedschlag

Investing.com – O Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, deve finalizar 2020, o ano da pandemia, mantendo a taxa básica de juros no piso histórico de 2% ao ano, mas as apostas para o início do novo ciclo de altas estão lançadas e dividem economistas-chefes de bancos e corretoras consultados pelo Investing.com.

A atuação dos bancos centrais ao redor do mundo ficou marcada este ano por taxas de juros muito baixas e liquidez abundante, que atenderam à necessidade global de ajuda monetária para combater os severos danos da Covid-19 na economia. No Brasil não foi diferente e o ciclo de cortes reiniciado em junho de 2019 se estendeu até agosto deste ano, frustrando as pesquisas Focus pré-pandemia, recolhidas com agentes de mercado pelo Banco Central, que viam a taxa fechando 2020 a 4,5%.

Agora, com a perspectiva da chegada das vacinas e da retomada das atividades pelo fim do distanciamento social imposto pelo vírus, além do latente risco fiscal brasileiro e da inflação que ameaça começar a pressionar, os economistas preveem que o Banco Central deve retirar o estímulo monetário lentamente ao longo de 2021 ou até em 2022, a depender do andamento da economia.

O consenso de mercado, segundo o Focus desta última segunda-feira (7), é que a taxa chegue a 3% no final de 2021. No entanto, as incertezas com o cenário do que parece ser o final da pandemia dispersam as apostas do início do ciclo pelo calendário, assim como o tamanho das adições percentuais à taxa.

Para esta quarta-feira (9), há expectativas de que o Copom retire a fresta que até então seguia aberta para novos cortes e faça alguma menção extra sobre o atual patamar da inflação e os impactos na projeção para o cenário relevante do BC. Os economistas concordam por unanimidade que o comitê deve manter o forward guidance, ou orientação futura, e que o risco fiscal não aumentou desde a última reunião, o que deve manter o apelo por reformas no mesmo tom das últimas comunicações.

A decisão da taxa Selic e o comunicado que a acompanha serão divulgados às 18h30 desta quarta. Veja o que dizem os economistas:

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa

Selic em 6% no final de 2022
Início do ciclo de alta: 1T22

“Não deve ter muita alteração no comunicado em relação à inflação, apesar de as expectativas terem aumentado nas últimas semanas. Devem reconhecer o avanço, dizer que estão monitorando, mas ainda assim reafirmar que o efeito é pontual e deve ser devolvido no próximo ano”.

“O que precisa acontecer para o BC mudar essa perspectiva é o cenário para inflação de 2022 se aproximar de forma célere da meta, mas a atividade fraca em 2021 deve se impor. Temos uma ociosidade grande, com taxa de desemprego que deve avançar de maneira significativa não somente pelo fim do auxílio emergencial, mas também porque as pessoas vão voltar a circular com o fim da pandemia e, assim, a procurar emprego”.

José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator

Início do ciclo de alta: 4T21, “se precisar aumentar a taxa”.

“Não dá para imaginar que a inflação ficará acima da meta por muito tempo no ano que vem e em meados de 2022. Entramos em dezembro com o dólar despencando no mundo todo. Se esse quadro novo de valorizar moedas emergentes se mantiver, não tem como dizer que o câmbio vai puxar os preços. É um padrão completamente diferente da última reunião [do Copom] e que precisa ser mencionado.”

“A inflação corrente piorou por questões pontuais, o que era esperado, não fugiu da meta. Se isso não estiver no comunicado, é porque o Copom está vendo a inflação desancorando”.

“Do lado de atividade, não tem novidade. No mercado de trabalho, não tem melhora, e ano que vem acabam os benefícios de contratação do governo, como a redução de salário por redução de horário. A tendência é de piora até mesmo no mercado formal”.

“A inflação precisaria estar 4% a 4,5% ao ano para pensar em começar a elevar juros e eu vejo esse cenário como muito improvável. Se precisar aumentar a taxa, vai ser no final do ano, no quarto trimestre”.

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha 

Selic entre 2,75% e 3% no final de 2021, “mas com crescente probabilidade da taxa de juros encerrar acima de 3% por conta do fiscal”.
Início do ciclo de alta: passagem do 1S21 para o 2S21

“Apesar do diagnóstico de que essa pressão inflacionária é de curto prazo, há uma preocupação de desancoragem dependendo da retomada. Mercado vai olhar majoritariamente para as considerações do BC sobre o cenário inflacionário e fiscal, que são os dois fatores que poderiam levar a um ciclo de alta”.

“Sem a sinalização de que a inflação não vá cumprir a meta, o que vai continuar pesando é o fiscal, já que ainda há muita incerteza sobre como as contas públicas serão conduzidas, além do ritmo da recuperação dos trimestres seguintes”

Boletim Focus – segunda-feira, 7 de dezembro de 2020
Para 2021, os economistas mantiveram a expectativa da Selic em 3% pela segunda semana consecutiva, assim como as projeções de 2022 e 2023 de 4,5% e 6%, respectivamente. O TOP-5, os cinco que mais acertam no Boletim, também manteve a previsão em 3%.

Rafael Leão, economista-chefe da Parallaxis

Selic em 3,5% no final de 2021
Início do ciclo de alta: 1T21

“A pressão da inflação é pontual e temporária. É uma inflação de custos e de câmbio. BC vai trabalhar com forward guidance, no sentido de que vai observar as expectativas de inflação, mas as coisas podem mudar de figura a partir da reunião do ano que vem. Vai ver como a indexação de preços vai se espraiar na economia, e as expectativas de inflação podem se desgarrar acima da meta.”

“No momento, BC e o mercado estão olhando mais para o fiscal do que para a inflação de curto prazo. É importante que a sinalização seja de freio dos gastos. Na avaliação do BC, o regime fiscal ainda está mantido, mas se o Teto [de Gastos] for modificado ou retirado, isso teria mudanças”.

Jason Vieira, economista-chefe da Infinity

Selic em 3,5% em 2021
Início do ciclo de alta: a partir do 1S21

“Acho que o BC ultrapassou o piso e que a taxa está ultraestimulativa. Não tem espaço para novos cortes e já passou um pouco da hora de tirar isso da comunicação. Mas tenho dúvidas se isso vai acontecer e espero a manutenção do comunicado”.

“Não podem deixar passar a alta inflação. Mesmo concentrando a inflação de energia em 2020 [com a mudança da bandeira tarifária], isso não quer dizer que não vai ser transferido para 2021. Podemos também ter uma demanda maior por energia, ou a bandeira pode ser alterada nesse período. Não dá para contar com isso”.

“A questão do choque de oferta, bem significativo recentemente, traz incerteza. Isso pode carregar uma inflação no atacado que vai para o varejo e é uma preocupação que pode elevar mais a taxa.”

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter (SA:BIDI4)

Selic em 3,5% no final de 2021
Início do ciclo de alta: meados de 2021

“Com a volta do fluxo estrangeiro e o dólar cedendo, esperamos que o Copom mantenha o mesmo comunicado e o forward guidance. O cenário de incerteza, principalmente com o fiscal, continua, mas o governo deu uma alinhada em seu discurso, então o BC não deve ser mais severo quanto a isso”.

“Continuamos achando que a alta da inflação é temporária, é um choque de oferta que não se consegue consertar com Selic”.

André Perfeito, economista-chefe da Necton 

Selic em 4% no final de 2021
Início do ciclo de alta: 1S21

“Banco Central vai subir a taxa de juros logo no começo do ano. A alta do processo inflacionário, apesar de estar sob controle, está sob pressão e conspira para isso. Também ajuda que a questão fiscal não vai ser resolvida no curto prazo, será persistente ao longo de 2021.”

“Para um ciclo contrário, de nenhuma alta ou de altas muito baixas, que é improvável, só se o governo mantiver uma disciplina fiscal muito rígida ou uma segunda onda do vírus vier mais forte, que derrube a atividade por mais tempo.”

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