Por Alexandro Martello, G1 — Brasília

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avaliou que, por conta dos riscos associados à pandemia do novo coronavírus, a economia pode apresentar uma “retomada ainda mais gradual” e indicou que pode voltar a subir a taxa básica de juros no futuro.

As informações constam na ata de sua última reunião, realizada na semana passada, quando a taxa Selic foi mantida na mínima histórica de 2% ao ano.

O documento foi divulgado nesta terça-feira (15).
Sobre o nível de atividade, o BC avaliou que a ressurgência da pandemia no curto prazo, e o consequente aumento do distanciamento social em algumas das principais economias, devem “interromper a recuperação da demanda”.

“No médio prazo, entretanto, os resultados positivos dos testes das vacinas, somados aos estímulos monetários e fiscais, podem implicar uma recuperação ainda mais robusta”, acrescentou.

Segundo avaliação do Copom, os programas governamentais de recomposição de renda têm permitido uma retomada relativamente forte do consumo de bens duráveis e do investimento.

Porém, acrescenta que a pouca previsibilidade associada à evolução da pandemia e ao “necessário ajuste dos gastos públicos a partir de 2021” (com o fim do auxílio emergencial) “aumenta a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica”.

Alta de juros

Na ata de sua última reunião, o Copom mudou a comunicação sobre o chamado “forward guidance” mecanismo que impede aumento do juro básico da economia.

Até então, o BC avaliava que as condições para sua manutenção, que são expectativas de inflação em linhas com as metas e manutenção do teto de gastos, estavam satisfeitas.

Na reunião da semana passada, porém, informou que, “em breve”, as condições para manutenção mecanismo podem não ser mais atendidas.

Com isso, o BC indicou que a taxa Selic pode voltar a subir no futuro, como já espera o mercado financeiro. Para os analistas dos bancos, a taxa Selic deve subir para 2,25% ao ano em agosto de 2021, para 2,5% em setembro, para 2,75% em outubro e para 3% ao ano em dezembro do próximo ano.

O Copom acrescentou, porém, que essa mudança de comunicação “não implica em uma elevação imediata da taxa básica de juros”, já que a economia ainda precisa de estímulos monetários.
“No cenário de retirada do ‘forward guidance’, a condução da política monetária seguirá o receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos”, informou o BC.

Para 2021, ano no qual o BC passou a mirar as decisões, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%. Para 2022, a meta central é de 3,5%, e o IPCA pode oscilar entre a banda de 2% a 5%.

No cenário com juros e câmbio estimados pelo mercado financeiro, o BC estimou que a inflação ficará em torno de 4,3% para 2020, de 3,4% para 2021 e de 3,4% para 2022.

Inflação alta em dezembro

De acordo com o Banco Central, os últimos resultados da inflação foram acima do esperado e, em dezembro, apesar da desaceleração prevista para os preços de alimentos, a “inflação ainda deve se mostrar elevada, com coleta extraordinária de preços de mensalidades escolares e transição para o mais elevado patamar de bandeira tarifária de energia elétrica”.
“Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente”, acrescentou a instituição.

Por fim, o Copom avaliou que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. “O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, acrescentou.

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