Por Flávya Pereira -30 de abril de 2021
São Paulo – Há um ano, a Agência CMA reportou que a pandemia do novo coronavírus havia impactado fortemente a negociação de papel moeda nas corretoras e casas de câmbio, que desabou com o isolamento social no país. Agora, há demanda, mas não há oferta de dólar turismo para atender clientes em capitais como Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba.
“Nós temos um fornecedor muito grande de São Paulo, com muitas lojas, que procurou a nossa corretora porque não tinha dólar turismo em BH. Não estava chegando carro-forte aqui. Estamos sem estoque porque está faltando moeda e para não correr risco de perder dinheiro”, comenta Fernando Franklin, diretor da corretora Amaril Franklin, sediada em Belo Horizonte.
Ele explica que, um pouco antes da pandemia, chegava a faltar papel moeda na capital mineira por “até quatro dias”, mas a pandemia de covid-19 agravou a situação e chega a faltar moeda por até duas semanas.
“Aqui, foi um dos lugares onde o comércio ficou mais tempo fechado [por causa das medidas de isolamento social]. A demanda por dólar turismo chegou a zerar, de ficar semanas sem ninguém fazer cotação. Só que faz algumas semanas que a demanda está voltando”, explica.
Em Curitiba, a situação é parecida. Jefferson Rugik, diretor superintendente de câmbio da Correparti, corretora sediada na capital paranaense, explica que, antes da pandemia, havia uma distribuição de “estoque” para algumas capitais. Hoje, o volume importado de papel moeda tem ficado em São Paulo.
“Como as notas são importadas, é preciso uma logística especial. Com a demanda baixa, não estão importando ou estão importando muito pouco”, destaca, acrescentando que quando as notas chegam ao Brasil, a carga fica em custódia em uma grande empresa que faz a segurança e transporte de valores.
“A carga fica concentrada em São Paulo porque o custo com a logística é alto. Custa muito para importar e para manter o estoque. Por isso, só enviam para outras ‘praças’ quando tem uma demanda específica”, pondera, afirmando que a Correparti perdeu entre 80% e 90% de negócios por falta de dólar turismo.
Em Porto Alegre, o superintendente de um banco, que pede para não ser identificado, define a situação como “bem crítica”, já que há poucos compradores e consequentemente, não há estoque de dólar papel. “Aqui tem faltado. O banco [onde trabalha] até tem espécie em estoque, mas só atendemos clientes com agendamento prévio por causa das medidas contra a covid-19”, esclarece.
Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio do grupo Ourominas, sediado em São Paulo, ressalta que “na principal praça” não há falta de papel moeda. “Como os bancos estão comprando menos, enviam menos para as praças. Dependendo do lugar, fica um bom tempo sem chegar dólares. Mas em São Paulo não falta porque é o centro de abastecimento”, diz.
Kelly Gallego Massaro, presidente-executiva da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), reforça que o desabastecimento de papel moeda em algumas capitais foi “pontual” e que a distribuição “está normalizada”, já que as negociações em abril foram um pouco melhores do que em março. “O mercado está girando em 20% em relação ao volume de negócios habitual [antes da pandemia]. Isso favoreceu que algumas instituições ficassem desabastecidas de dólar”, explica.
O diretor da corretora mineira Amaril Franklin reforça que a pandemia “tirou o equilíbrio entre oferta e demanda” ao explicar a procura aumentou porque algumas pessoas estão conseguindo viajar para o exterior, além da procura para estoque e proteção de patrimônio. “Muita gente está querendo comprar dólar como reserva de valor e pelo receio de novas altas da taxa de câmbio”, reforça.
Massaro acrescenta que o recuo da taxa de câmbio ao longo do mês influenciou em uma procura maior por dólar. “Além do fator preço, turistas estão se encorajando a viajar para alguns países que estão abrindo as fronteiras para o Brasil”, diz.
Rugik enfatiza que “o mundo está abrindo de novo”, por isso, há mais procura por papel moeda. “Mas a importação deverá aumentar porque quando a demanda está alta, também costuma faltar. Porém, antes a importação era mais rápida”, finaliza.
Edição: Eduardo Puccioni (e.puccioni@cma.com.br)