A indústria automobilística brasileira se prepara para um fim de ano de baixa produção e fábricas fechadas, numa sequência do cenário visto ao longo de 2021 e que poderá reduzir a expectativa dos resultados do setor.

Até agora, a maioria das empresas adotou períodos de férias coletivas, antecipação de feriados e folgas aos funcionários para driblar a falta de componentes para a produção, em especial de semicondutores.

Para o fim de ano, contudo, a opção voltou a ser o lay-off (suspensão de contratos de trabalho), que permite períodos mais longos de dispensas. Também estão nos acordos com os funcionários programas de demissão voluntária (PDV) e redução de jornada e salários.

Dona da Fiat, a Stellantis (NYSE:STLA) vai colocar em lay-off 1,8 mil funcionários da unidade de Betim (MG) por três meses a partir de segunda-feira. A empresa vem promovendo paralisações parciais em linhas de produtos por prazos de dez dias.

Na fábrica mineira trabalham 13 mil pessoas, incluindo pessoal administrativo, e são produzidos seis veículos, entre os quais a Strada, o Argo e o Mobi, que estão entre os quatro modelos mais vendidos neste ano. A picape Strada tem fila de espera de mais de três meses. Também acabou de entrar em linha recentemente o Pulse, primeiro SUV da marca produzido no País e com lançamento marcado para 19 de outubro.

A Renault (PA:RENA) abriu hoje um PDV para 250 funcionários da fábrica de São José dos Pinhais (PR) e vai colocar outros 300 em lay-off inicialmente por cinco meses. O complexo emprega ao todo 6.450 trabalhadores, cerca de 5 mil deles na área de produção.

Na Volkswagen (DE:VOWG), a produção em São Bernardo do Campo (SP) está suspensa por dez dias a partir da última segunda-feira, mas avalia colocar trabalhadores de um turno em lay-off a partir de novembro. Por enquanto, a montadora informa que, no momento, a medida de flexibilização adotada são férias coletivas – medida que está em uso também na unidade de Taubaté para um turno de trabalho.

Preservação de empregos

As três fabricantes justificam as medidas como forma de preservar empregos enquanto a produção segue em ritmo lento por causa da falta de componentes, problema global que pode se estender até o fim do primeiro semestre de 2022.

Em nota, a Renault informa que as medidas foram aprovadas ontem em assembleia dos trabalhadores e são resultado dos “impactos provocados pela covid-19 na fabricação de componentes eletrônicos e da falta de perspectiva de melhora do cenário global”. Redução de jornada e salários também está no pacote.

Ao todo, a Renault já teve a produção suspensa por 41 dias ao longo do ano, porque não havia peças para a produção dos modelos Captur, Kwid, Sandero, Logan, Duster, Oroch e Master.

Nesta semana, retornaram ao trabalho 250 funcionários que estavam com contratos suspensos há um ano. Na sequência, o grupo entrou em férias coletivas porque não há trabalho para essa equipe. Por isso a empresa abriu o PDV, que oferece como incentivo de 10 a 11 salários extras a quem aderir. Se não atingir a meta, indicará o pessoal a ser demitido.

O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba afirma que as propostas foram decididas em conjunto com a empresa e que focou ao máximo a preservação dos empregos. Os salários, reduzidos durante o lay-off, serão bancados pela própria empresa.

“Os trabalhadores novamente precisam ‘investir’ para garantir emprego, concedendo INPC em troca de abono, aceitando PDV e redução de jornada para deixar a empresa mais competitiva. São os trabalhadores que estão buscando as soluções. Os governos não estão fazendo nada”, diz o presidente da entidade, Sérgio Butka.

Também em nota, a Fiat afirma que o lay-off “é decorrência do impacto da crise sanitária e de suas consequências sobre a economia, que agravaram a escassez global de insumos, notadamente de componentes eletrônicos, comprometendo a capacidade de manter o ritmo e volume de produção dentro de padrões previsíveis”.

Durante o período de suspensão de contratos na Fiat, parte dos salários dos funcionários será complementada com recursos do seguro-desemprego e os funcionários passarão por requalificação profissional.

Produção deve ser menor do que a prevista

Em julho, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projetou para este ano a produção de 2,46 milhões de veículos, o que representaria alta de 22% em relação a 2020. Afetado pela pandemia, foi um dos piores anos da história do setor.

Neste ano, até agosto, foram fabricados 1,47 milhão de veículos e a previsão da Anfavea não deve se confirmar. As montadoras empregam atualmente 103 mil funcionários, quase o mesmo número de igual período do ano passado.

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