Os cinco maiores bancos de varejo brasileiros em total de ativos – Itaú Unibanco (SA:ITUB4), Banco do Brasil (SA:BBAS3), Bradesco (SA:BBDC4), Caixa Econômica Federal e Santander Brasil (SA:SANB11) – tiveram lucro líquido de R$ 26,2 bilhões no terceiro trimestre, o que representa uma alta combinada de 36% em um ano. O resultado foi impulsionado pela maior concessão de crédito e por um salto nas receitas com tarifas. Ambos os indicadores refletiram a reabertura das atividades econômicas, mas podem arrefecer nos próximos trimestres, diante da alta dos juros e da desaceleração da economia brasileira esperada para 2022.

O último dos balanços foi divulgado na quinta-feira, 18, o da Caixa Econômica Federal. O resultado do banco público, que é especialmente forte no crédito imobiliário, deu um salto de quase 70% em um ano, atingindo R$ 3,2 bilhões no terceiro trimestre de 2021. No acumulado de janeiro a setembro, o resultado somou R$ 14,1 bilhões, aumento de 87,4% ante o mesmo período do ano passado.

A taxa de retorno do banco, da ordem de 20%, também surpreendeu o mercado. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse ontem que os ganhos são “muito altos” para um banco de cunho social. Todos os bancos tiveram, porém, forte crescimento no lucro entre julho e setembro.

Com a reabertura dos negócios, os clientes dos grandes bancos passaram a fazer mais transações, usando mais cartões e comprando mais produtos como seguros, títulos de capitalização e consórcios. Como resultado, as receitas com prestação de serviços e tarifas dos cinco maiores bancos cresceram 5% em um ano, somando R$ 37,2 bilhões. O Itaú ficou com o maior faturamento, de R$ 10,1 bilhões. A Caixa, ao contrário de seus concorrentes, viu essa receita cair na comparação anual, embora em nível modesto, de 1,1%.

Crédito
A carteira de crédito também mostrou forte expansão, de 13,1%, com altas acentuadas em especial nos bancos privados – o Bradesco viu a carteira aumentar 16,4%, enquanto no Itaú e no Santander as altas foram de 13,6% e 13,1%, respectivamente. A carteira dos cinco totalizava R$ 3,9 trilhões em setembro. O maior impulso veio de linhas direcionadas a pessoas físicas e a pequenas empresas.

Os números dos grandes bancos coroam a expansão do crédito no sistema como um todo. Em setembro, o crédito ampliado chegou a R$ 13,1 trilhões, de acordo com o Banco Central (BC), uma alta de 14,7% em relação ao mesmo período de 2020. Todo esse crescimento, porém, não deve se repetir nos próximos meses. Antes mesmo da volatilidade típica de anos eleitorais esperada para 2022, os principais indicadores econômicos têm mostrado desaceleração, o que pode reduzir o ímpeto das concessões de crédito.

Em setembro, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) caiu 0,27% na comparação com agosto. O indicador, um parâmetro da atividade econômica no País, mostrou, de acordo com economistas, que o fim do terceiro trimestre foi de economia mais fraca, com herança estatística também desfavorável para o quarto trimestre deste ano.

Ânimo frio
Ao mesmo tempo, analistas esperam que o dinheiro fique mais caro no que vem, com a escalada da taxa básica de juros. “Diante da alteração no teto de gastos, revisamos nosso cenário-base. Nossa avaliação é de que a alteração em curso da âncora fiscal acarretará em elevação dos prêmios de risco, taxa de câmbio mais depreciada, em conjunto com inflação e juros mais elevados, afetando a atividade econômica, principalmente, ao longo de 2022”, afirmou a Genial Investimentos, que cortou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem de 1,3% para 0,6%.

O relatório Focus, que reflete a média das projeções para a economia, mostrou queda de 1% para 0,93% na projeção para a alta do PIB em 2022, na sexta redução consecutiva. Para o economista-chefe de América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, inflação de dois dígitos, taxas de juros em alta, ruído político e incerteza fiscal elevados, além da interrupção da tendência de alta na confiança do consumidor e de empresários, criam um cenário desafiador para a economia em 2022.

Até aqui, os grandes bancos afirmaram esperar, além de uma desaceleração no crédito, uma alta da inadimplência no ano que vem. A expectativa, porém, é de que a rentabilidade seja mantida. As instituições financeiras apostam nas concessões de crédito para pessoas físicas e pequenas empresas, que em geral têm taxas maiores, para garantir margens mais robustas à frente.

Os bancos têm afirmado que conseguiram, até aqui, repassar em parte a alta da Selic para as novas concessões de empréstimos, o que pode ajudar na rentabilidade nos próximos trimestres. “As novas safras (de crédito) já estão entrando com spreads (diferença entre custo e valor cobrado do cliente) maiores”, disse o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, na semana passada.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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