Por Tatiana Freitas

Bloomberg — Seis grupos varejistas europeus, incluindo o Sainsbury’s, no Reino Unido, e o Carrefour, na Bélgica, vão suspender a compra de carne bovina brasileira ou de derivados de carne relacionados à JBS em razão de novas descobertas que associam a criação de gado ao desmatamento na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal.

As revelações são do Repórter Brasil, um grupo independente de pesquisa focado em temas ambientais e trabalhistas, em parceria com a Mighty Earth, uma organização não governamental com sede em Washington e com foco ambiental. Eles rastrearam o caminho da carne desde a criação em áreas desmatadas até o varejo na Europa, sendo vendida em cortes premium, jerked beef (uma espécie de carne seca) e carne enlatada, segundo informaram as organizações em um comunicado.

As supostas transgressões são relacionadas a fornecedores indiretos de gado, os fazendeiros que criam os animais para vendê-los a outros produtores, que os comercializam então para abatedouros. Irregularidades relacionadas a desmatamento ilegal foram descobertas em fornecedores indiretos da JBS SA, maior exportadora de carne bovina do mundo, Marfrig Global Foods SA, a segunda maior, e Minerva SA, líder em exportações na América do Sul, de acordo com o relatório.

Algumas redes, como a Sainsbury’s U.K. decidiram suspender as compras de carne enlatada de todo o país, enquanto outros, incluindo o Carrefour e Delhaize, na Bélgica, vão retirar o jerked beef da Jack Link’s de suas prateleiras. A Jack Link’s tem uma joint venture com a JBS para produção de jerked beef para exportações para Europa e EUA, de acordo com Nico Muzi, diretor da Mighty Earth Europe. As duas unidades da JBS que produzem esse tipo de carne no Brasil estão ligadas ao desmatamento, disse.

Outro lado

Frigoríficos brasileiros afirmam que fornecedores indiretos são o principal obstáculo para interromper o desmatamento relacionado ao gado. No ano passado, JBS e Marfrig anunciaram novos sistemas de rastreamentos e ferramentas para melhorarem seus controles, usando tecnologia blockchain, cujas metas serão conquistadas ao longo dos próximos anos. Mesmo assim, eles já fizeram promessas similares anteriores com pouco efeito.

Especificamente sobre as novas revelações, a JBS disse que “não perdoa ou tolera qualquer tipo de desrespeito ao meio ambiente, comunidades indígenas ou à legislação brasileira,” de acordo com o relatório da Repórter Brasil. Na época das compras de gado citadas no relatório, todos os fornecedores diretos cumpriam com os protocolos da companhia, acrescentou a JBS.

Marfrig disse que cumpre com todos os critérios de compliance socioambiental. Minerva disse que os fornecedores indiretos citados no relatório não constam da lista de fornecedores da empresa, acrescentando que as fazendas que vendem gado diretamente para a companhia estão regulares.

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