Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira
SÃO PAULO/NOVA YORK (Reuters) – Fortes chuvas inundaram alguns campos de café e outras safras em determinadas áreas do Brasil, a última das ocorrências climáticas extremas para a agricultura do país, que incluem geadas e secas devastadoras.
As chuvas foram mais do que quatro vezes acima do normal nas regiões ao norte de Minas Gerais, Estado que é o maior produtor de café do Brasil.
Mas, ao contrário de outras intempéries, a chuva extra pode em última análise melhorar as condições hídricas para os cafezais.
O Brasil, maior produtor mundial de café, sofreu sua pior seca em 90 anos no ano passado, seguida pelas geadas mais fortes em décadas. No final de dezembro, as chuvas deixaram mais de 20 vítimas fatais na Bahia, enquanto uma estiagem cortou a safra de soja no Sul.
Eustáquio Gonçalves, que ajuda a administrar 460 hectares de café arábica em Pirapora, no norte de Minas Gerais, disse que as chuvas desde outubro passaram de 1.000 milímetros na área.
“Normalmente recebemos menos do que isso durante todo o ano”, destacou ele.
O excesso de chuva faz com que os frutos do café, ainda verdes nesta época, caiam, reduzindo a produção. Muita umidade também impede tratos culturais ideais, uma vez que as máquinas não podem se mover entre as árvores, levando a uma disseminação mais rápida de doenças e pragas.
Gonçalves estima que a produtividade da fazenda cairá para cerca de 40 sacas de 60 kg por hectare, ante projeções anteriores de 50 sacas.
Em alguns lugares, como Taiobeiras, também no norte de Minas Gerais, plantações inteiras de café foram cobertas pela água que transbordou do rio Pardo, com fazendeiros compartilhando fotos na rede social Instagram.
Nesses casos, safras inteiras poderão ser perdidas.
No entanto, a umidade extra melhorou as condições em outras áreas onde as chuvas estão menos intensas, incluindo na principal região produtora, o Sul de Minas Gerais, segundo o pesquisador José Braz Matiello.
“Chuva excessiva na área de café, não. Pode ter no norte de Minas, pode lavar um pouco mais o adubo, mas os cafés normalmente são plantados em áreas altas dos terrenos. No Sul de Minas, em quase em todos os lugares, não é uma cultura de baixada, que normalmente vai sofrer”, afirmou Matiello.
“No geral, excesso de chuva não é benéfico, mas também não é maléfico”, lembrando que muita precipitação pode levar produtores a reforçar a aplicação de adubo.
Ele acrescentou que as chuvas agora também podem beneficiar a safra de 2023.
Flávio Figueiredo de Rezende, cafeicultor com propriedades em Varginha, no Sul de Minas, concorda.
“As chuvas se intensificaram do final de dezembro em diante… Excessivas até o momento ainda não, com exceção de alguma propriedade”, afirmou ele, ressaltando que a umidade está ajudando lavouras a se recuperar após as geadas, com possível impacto positivo no ano que vem.
José Henrique Mendonça, produtor em Cristais Paulista e presidente do Sindicato Rural de Franca e região, na Alta Mogiana, disse que as chuvas voltaram “com regularidade” e em bons volumes, o que traz perspectivas melhores para a produção em 2023, se as boas condições hídricas se mantiverem até a próxima florada.
Para 2022, disse ele, os efeitos da seca e geadas de 2021 não serão revertidos.
O banco de investimentos Itaú BBA disse na quinta-feira que embora as chuvas não aumentem a quantidade de grãos de café para a safra 2022, pois o período de floração já passou, elas ajudariam no desenvolvimento dos frutos, aumentando o tamanho dos grãos.
Frutos maiores significam que os cafeicultores precisarão de menos grãos para encher uma saca, e eles serão de melhor qualidade e, portanto, mais procurados pelos torrefadores.
“As pessoas geralmente superestimam os danos causados pela chuva. Normalmente, ela beneficia mais do que prejudica”, disse o analista de commodities Shawn Hackett.