Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar caía frente ao real nesta quinta-feira, ampliando perdas registradas na véspera em meio a alívio em temores político-fiscais domésticos, acompanhando ainda arrefecimento no rali dos rendimentos dos títulos soberanos norte-americanos.
Às 9:50 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,30%, a 5,4510 reais na venda, depois de cair 0,53% na mínima do dia, a 5,4383 reais.
Na B3, às 9:50 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,16%, a 5,4630 reais.
As perdas desta manhã vêm depois de a moeda norte-americana ter fechado a última sessão em baixa de 1,68%, a 5,4673 reais na venda, mínima desde 12 de novembro do ano passado (5,4569 reais) e a maior queda percentual diária desde 30 de dezembro (-2,11%).
Parte dos mercados atribuiu a onda de vendas de dólares no mercado doméstico a falas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Líder nas pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de outubro, Lula fez na véspera acenos a partidos mais à direita, dizendo que não veria problema em formar chapa com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin.
Além disso, houve algum alívio nos temores fiscais, após notícias acerca do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do país, Jair Bolsonaro, reduzirem as perspectivas de reajustes salariais para servidores públicos, que têm se mobilizado nas últimas semanas.
Já para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, os ajustes para baixo no dólar e para cima na bolsa –com o Ibovespa subindo mais de 1% na quarta-feira– é reflexo de um mercado local com ativos “altamente descontados”.
“Não somente isso, pois há também uma taxa de juros nominal e real que garante um ‘carry trade’ significativo ao investidor estrangeiro, independentemente do cenário político que ainda está por ser traçado neste ano”, afirmou ele em nota.
“Carry trade” é um termo que se refere a estratégias que buscam lucros com diferenciais de juros. Com a taxa Selic atualmente em 9,25% ao ano, o mercado de renda fixa do Brasil apresenta um retorno interessante.
Mas grandes economias, como os Estados Unidos, já estão se preparando para aumentar os custos dos empréstimos neste ano, o que pode afetar a atratividade de ativos de países emergentes.
Refletindo apostas de que o Federal Reserve, o banco central norte-americano, elevará os juros pelo menos quatro vezes em 2022, os rendimentos dos Treasuries (títulos soberanos dos EUA) de curto prazo foram a máximas em dois anos mais cedo na semana.
O rali das taxas já perdeu fôlego, no entanto, o que deixava o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes estável nesta manhã.
“As reduções (na alta) dos rendimentos dos títulos levantam bandeiras para os investidores: será que os aumentos de juros nos Estados Unidos serão tão agressivos assim? O investidor começa a reavaliar riscos”, disse à Reuters Lucas Schroeder, diretor de operações da Câmbio Curitiba.
Ele também apontou uma disparada recente nos preços das commodities –com os contratos futuros do petróleo indo a máximas desde 2014 na quarta-feira– como fator de apoio para moedas de mercados emergentes.
Nesta sessão, peso mexicano, peso chileno, rand sul-africano e dólar australiano, pares cujo comportamento o real tende a acompanhar, registravam ganhos.
O Banco Central fará nesta sessão leilão de até 17 mil contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 2 de março de 2022.