Por Ana Beatriz Bartolo e Jessica Bahia Melo
Investing.com – O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou uma alta de 0,47% em maio, abaixo da previsão de 0,60%, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta manhã, 09. O resultado também é bem inferior aos 1,06% prévios. A divulgação do anúncio acontece uma semana antes da reunião do Copom e deve trazer maiores sinais sobre os próximos passos da autoridade monetária.
O IPCA anual acumulou alta de 11,73%, abaixo da expectativa do mercado de 11,84% e dos 12,13% apresentados anteriormente.
Segundo resultados parciais divulgados pelo Banco Central nesta semana, os analistas consultados para a formulação do Boletim Focus estimam que o IPCA em 2022 será de 8,89%, ante 9% de cinco dias atrás. Para 2023, a expectativa passou de 4,50%, para 4,39%.
Matheus Peçanha, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), acredita que o IPCA veio próximo das expectativas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), com efeitos da bandeira da tarifária retirando a pressão dos preços. “Para junho, não teremos mais esse impacto. Daqui para frente a energia deve só aumentar, por conta de revisões tarifárias, a não ser que o teto do ICMS vingue, e aí a gente prevê uma queda de até 6% no preço da energia ao longo do ano”, explica. Além disso, o dólar está mais estabilizado e os alimentos in natura mostram recuperação nas margens dos hortifrutis. Previsões de geada no inverno podem afetar novamente as lavouras nos próximos meses.
“Ainda que parte das surpresas baixistas tenham se mostrado em itens que não compõe os núcleos (energia), tanto higiene quanto alimentação fora empurram os núcleos para baixo, melhorando a dinâmica da inflação. Contudo, como se sabe, higiene pessoal tem alta volatilidade, o que diminui o grau de consistência da melhora, mas alimentação fora pode ser considerado mais perene”, afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
“O IPCA de maio veio abaixo das projeções. O resultado corrobora para a leitura de que alguns grupos atingiram em parte certo teto uma vez que já subiram de maneira relevante, logo não é razoável supor altas ainda maiores na margem. Este parece ser o caso do grupo alimentação por exemplo que após subir 2,06% no mês anterior avança apenas 0,48% em maio”, completa André Perfeito, economista-chefe da Necton.
Segundo João Beck, economista, o IPCA bem abaixo do consenso já derrubou os contratos futuros de juros. “Duas forças podem influenciar o IPCA nos próximos meses: a possibilidade de reajuste pra cima de preços pela Petrobras (SA:PETR4), algo que é esperado pelo mercado diante da defasagem de preços em relação ao mercado e a proposta de limitar cobrança do ICMS para combustíveis, energia elétrica, teles e transportes”, aponta.
Já para o economista, Eduardo Vilarim, o índice de difusão ainda veio elevado, em 72%. “Alimentos foi o a abertura que mais descolou de nossas projeções, influenciada pela forte desaceleração dos alimentos consumidos no domicílio. Saúde também veio abaixo do esperado, refletindo uma desaceleração da alta dos produtos farmacêuticos. A queda de habitação e combustíveis já era esperada, refletindo parte das decisões governamentais quanto a gestão da bandeira tarifária de energia e a política de preços mais contida da Petrobras, respectivamente”, completa.
“Alimentação é um resultado muito volátil, ainda assim, por ser muito volátil, o resultado de hoje não significa uma perspectiva para os próximos resultados. É um número que fica um pouco focado neste dado de maio e que não necessariamente se repetirá”, pondera Raone Costa, economista-chefe da Alphatree.
De acordo com Victor Candido, economista-chefe de banco, os núcleos de inflação, que são os preços menos voláteis e excluem itens como alimentos e combustível, ainda contam com inflação bastante pressionada. “A parte de serviços subiu bastante, saiu de 6,90% para 8% e está se tornando um pedaço grande da contribuição inflacionária. Antes, tínhamos uma inflação majoritariamente de bens, agora temos uma inflação que ainda é muito de bens em energia, mas onde o setor de serviços começa a pesar consideravelmente. E é algo que requer muita atenção, pois é uma inflação difícil de ser desacelerada, inclinada aos salários e ao mercado de trabalho, que melhorou bastante na primeira parte do ano”, afirma.