Taxa de investimento do Brasil ficou em 15,9% do PIB no segundo trimestre. Indicador segue abaixo do pico de 21% em 2013 e do que é investido pelos países emergentes.

Por Anna Carolina Papp, Bianca Pinto Lima e Luiz Guilherme Gerbelli, GloboNews e G1

30/08/2019

Os últimos números da economia brasileira mostram que o país tem um longo caminho para acelerar do crescimento. Um quadro mais robusto da atividade só deve se concretizar, na avaliação de analistas ouvidos pelo G1 e pela GloboNews, se o país conseguir melhorar o seu nível de investimentos.

No segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% – um resultado até melhor do que o esperado, mas para o ano como todo a expectativa ainda é de fraqueza da atividade. A previsão é de que a economia brasileira cresça próximo de 1% em 2019.

No período de abril a junho, a taxa de investimento no Brasil foi de 15,9% do PIB, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados na quinta-feira (29). O resultado permanece aquém do que o Brasil precisaria para retomar um crescimento no longo prazo e segue abaixo do pico de 21% em 2013 . Também é inferior ao que é investido pelos países emergentes.

“Os números são muito claros: houve uma recessão, o consumo das famílias caiu, e o investimento recuou”, afirma o coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Armando Castelar. “O consumo das famílias melhorou, mas o investimento ficou lá embaixo. Ele caiu 30% entre o pico e o vale e recuperou muito pouquinho. A retomada do crescimento depende da retomada do investimento.”

Para a aumentar o patamar dos investimentos e, consequentemente, garantir a volta do crescimento sustentado, o governo vai ter de endereçar uma longa agenda de reforma, apontam os analistas.

“O quadro é de uma economia muito frágil. A estimativa é de que o potencial de crescimento do Brasil não é mais do que 1%”, afirma a economista-chefe de XP Investimentos, Zeina Latif. “Ou seja, quando a gente leva em consideração a nossa infraestrutura, o nosso parque produtivo, a tecnologia dele, a quantidade e qualidade da nossa mão de obra, se, no passado, o nosso potencial de crescimento era 3,5%, hoje não é mais do que 1%.”

A agenda necessária para acelerar investimentos, sobretudo no setor de infraestrutura, inclui a melhora do ambiente de negócios, com clareza das regras para empresários e simplificação do sistema tributário, por exemplo. Neste ano, o relatório do Banco Mundial colocou o país apenas na 109ª posição num ranking que compara o ambiente para se fazer negócios, dentre 190 países analisados.

“Não tem uma bala de prata, não é que a gente mira numa reforma, faz essa reforma, e o Brasil rapidamente vai recuperar o seu potencial de crescimento”, afirma Zeina. “O país vai ter de avançar em várias frentes e ter perseverança porque muitas medidas não têm impacto imediato. Temos uma agenda que está na direção correta, mas não é um caminho fácil, é um caminho cheio de curvas.”

Sem investimento público

A atração de investidores privados é fundamental no quadro atual porque União, Estados e municípios enfrentam uma crise fiscal e, portanto, não têm dinheiro para realizar investimentos. Neste mês, na tentativa de estimular o aporte do capital privado na economia e o investimento, o governo anunciou um plano de privatizar nove empresas estatais, entre elas Telebras e Correios.

“A volta de uma agenda forte de concessões e privatizações é de suma importância para permitir a recuperação dos investimentos. Sabemos que há uma limitação enorme nesse momento. Tanto União, governos estaduais e municípios não têm recursos para levar adiante esses projetos, então o mais importante é contar com o suporte do setor privado”, diz o economista da consultoria Tendências.

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