Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar cedia terreno contra o real nesta sexta-feira, em meio ao alívio de temores sobre redução de estímulos pelo Federal Reserve após dados de inflação norte-americanos desta semana, e ao ciclo agressivo de elevação de juros pelo Banco Central do Brasil.

No entanto, mantendo a moeda norte-americana em patamares elevados, o cenário fiscal e político doméstico continuava sob os holofotes.

Às 10:32, o dólar avançava 0,13%, a 5,2609 reais na venda, depois de chegar a tocar 5,2298 na mínima do dia, enquanto o dólar futuro de maior liquidez perda de 0,08%, a 5,261 reais.

Embora os preços ao produtor nos Estados Unidos tenham avançado mais do que o esperado em julho, o Departamento do Trabalho norte-americano informou esta semana que a inflação ao consumidor norte-americano desacelerou em julho, aliviando parte dos temores sobre redução de estímulos pelo Federal Reserve.

“O debate sobre liquidez e juros continua, mas as taxas de juros lá fora (nos Estados Unidos) estão mais comportadas, e essa estabilidade é importante para a gente”, disse à Reuters Marcos Weigt, head de tesouraria do Travelex Bank.

A perspectiva de manutenção da ampla liquidez e dos custos de empréstimos próximos de zero na maior economia do mundo, que pode fornecer alívio para ativos de mercados emergentes, segundo especialistas, é impulsionada no Brasil pelo posicionamento mais “hawkish”, ou agressivo, do Banco Central.

Em meio a pressões inflacionárias crescentes, o BC intensificou a dose do aperto em seu último encontro de política monetária ao adotar alta de 1 ponto percentual na taxa Selic, a 5,5% ao ano, já indicando outro aumento de igual magnitude na próxima reunião do colegiado, em setembro.

Enquanto isso, os “termos de troca ainda são muito favoráveis para o Brasil”, disse Weigt. “Poderíamos estar aproveitando muito mais esse cenário de liquidez gigante, mas tem muito barulho na política.”

Brasília está vivendo um mês de agosto agitado, em meio à troca de farpas constante e cada vez mais intensa entre o presidente Jair Bolsonaro e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), bem como entre Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF).

O front fiscal também tem sido motivo de ansiedade, principalmente depois que o governo informou ter a necessidade de alterar a dinâmica para pagamento de precatórios, levantando temores sobre possível pedalada fiscal. O Ministério da Economia disse na quinta-feira que o fundo criado pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios não ficará fora do Orçamento, afetando, portanto, o resultado primário da União.

“A volatilidade política geralmente não faz tanto preço nos ativos, mas acho que está tão intensa que, agora, faz: não deixa o real se valorizar muito e mantém nossa bolsa descolada das outras”, afirmou Weigt. Ele acredita que, não fosse pela incerteza política, o dólar estaria mais próximo dos 4,90 reais.

“Pior que uma notícia ruim é a incerteza; uma notícia ruim você precifica e ponto”, enquanto as incertezas geram dúvidas sobre que decisões tomar, completou.

O dólar caminhava para encerrar a semana em leve alta, depois de fechar a última sexta-feira em 5,2343 reais. Até agora no mês de agosto, a moeda tem ganho de aproximadamente 0,7%, após encerrar julho em 5,2082 reais.

No acumulado do ano, o dólar sobe pouco mais de 1%, e não é negociado abaixo do patamar psicológico de 5,00 reais desde 30 de junho de 2021.

Na véspera, o dólar à vista subiu 0,66%, a 5,2542 reais, maior nível desde 8 de julho (5,2549 reais).

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