Por Lindsay Dunsmuir e Ann Saphir

(Reuters) – A diretora do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) Lael Brainard tornou-se na quinta-feira (13) a mais recente e sênior autoridade do banco central dos EUA a sinalizar que a instituição está se preparando para começar a subir as taxas de juros em março com o intuito de combater a inflação que tem corroído o valor dos recentes ganhos salariais de trabalhadores e colocado os membros do Fed na mira da classe política.

O Fed “projetou vários aumentos dos juros ao longo do ano”, disse Brainard ao Comitê Bancário do Senado, que está considerando sua indicação pelo presidente dos EUA, Joe Biden, ao cargo de vice-chair do Fed.

“Estaremos em condições de fazer isso… assim que nossas compras forem encerradas”, afirmou ela em referência a um programa separado de compra de ativos do Fed cujo término está previsto para o próximo mês, o que abre as portas para um possível aumento das taxas de juros na reunião de política monetária do Fed de 15 e 16 de março.

O banco central anunciou em dezembro planos de comprar sua última parcela de títulos do governo dos EUA em fevereiro, mais cedo do que havia projetado apenas um mês antes.

Com a inflação anual batendo 7% em dezembro, a mais alta em quase 40 anos, formuladores de política monetária do Fed estão ansiosos para fazer mais e mais cedo, com altas dos juros esperadas para os próximos meses e planos de redução do estoque de ativos de quase 9 trilhões de dólares do banco central tomando forma rapidamente.

“Estamos claramente em uma situação em que a postura da política monetária está equivocada” contra a inflação, disse o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, em evento organizado pelo Milwaukee Business Journal nesta quinta-feira.

Ele chamou a projeção recente dos formuladores de política monetária de três aumentos de 0,25 ponto percentual em 2022 de “um bom começo”, mas acrescentou que “podem ser quatro se os dados não melhorarem rápido o suficiente”.

Foi um pensamento comum nesta semana, conforme autoridades pareceram firmar planos de um aumento nos custos de empréstimos em março e colocar em jogo a possibilidade de uma quarta alta nos juros em 2022.

Esta semana é a última antes que as autoridades do Fed entrem em uma espécie de período de silêncio –ou seja, sem publicização de comentários– antes de sua reunião de política monetária de 25 a 26 de janeiro, quando podem estabelecer mais bases para uma subida nos juros em março.

A taxa de juros está perto de zero, patamar em que tem sido mantida desde o início da crise desencadeada pela pandemia de coronavírus.

“Minha previsão é que teríamos um aumento de 25 pontos-base em março desde que não haja qualquer mudança nos dados”, disse o presidente do Fed da Filadélfia, Patrick Harker, em evento virtual organizado pelo Philadelphia Business Journal nesta quinta-feira.

“Definitivamente, vejo aumentos de juros chegando, até mesmo já a partir de março”, afirmou a presidente do Fed de San Francisco, Mary Daly, na quarta-feira.

O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, e a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, também ventilaram elevação dos juros em março em comentários na quarta-feira.

REDUÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL

Em dezembro, a maioria dos formuladores de política monetária do Fed considerou que precisaria subir as taxas de juros pelo menos três vezes neste ano, mas nas últimas semanas –com dados mostrando que a inflação tem permanecido bem acima da meta de 2% e o mercado de trabalho perto do pleno emprego– as autoridades se concentraram em começar esse processo em março.

Com um aumento da taxa de juros em março agora firmemente em discussão, várias autoridades –incluindo Brainard nesta quinta-feira– também sinalizaram desejo de começar a reduzir o balanço patrimonial de 8 trilhões de dólares do Fed neste ano. Isso também removeria a acomodação da política monetária e diminuiria a pressão de baixa sobre os custos de empréstimos de longo prazo.

Atualmente, investidores veem probabilidade de 86% de que o banco central eleve sua taxa de empréstimo de referência de um dia em sua reunião de política monetária de 15 e 16 de março, de acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, que mostra ainda outros três aumentos de juros neste ano.

No início desta semana, o chair do Fed, Jerome Powell, também comentou sobre um firme aperto da política monetária em 2022. Ele argumentou que a economia forte não “precisa nem quer” tanto estímulo, apesar do salto nos casos de Covid-19 devido à variante Ômicron.

Harker, do Fed da Filadélfia, disse nesta quinta-feira ver a redução do balanço do Fed no fim de 2022 ou início de 2023 e que sua composição final ainda está sendo debatida.

Brainard, por sua vez, disse que o Fed tentará conter a inflação “o mais rápido possível, mas de forma consistente com uma recuperação forte e sustentada”.

(Por Lindsay Dunsmuir, Jonnelle Marte e Ann Saphir)

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